Por: Philp Scott – Biólogo
Muitos são os predadores que provocam intranquilidade aos aqüicultores em todo o país, em todos os locais e épocas do ano. Esses inimigos variam em tamanho, forma e mesmo inteligência. O predador que mais causa danos aos cultivos é o próprio homem que se transforma em verdadeiro “ninja”, rompendo cercas, pulando muros, furando a vigilância na calada da noite e ainda lançando tarrafas, que caem suavemente sobre a água sem fazer barulho.
Além disso, o homem predador é mais danoso quando usa as técnicas de suborno e, com isso, não deixa marcas de sua presença. Esse preâmbulo é resultado da minha experiência pessoal e visa diminuir a inquietação de muitos leitores, como a veterinária Sultane Mussi, de Sapucaia, RJ, que nos pediu informações sobre técnicas de controle. Deixando a “inteligência” do homem de lado, me lembro de uma grande garça branca que chegou a nossa criação em Barra do Piraí por volta de 6 horas da tarde. Logo percebi o perigo que correria se ela se comunicasse com o seu bando e chamasse as companheiras para um festival gastronômico na Fazenda Santa Maria. Para que isso não acontecesse, peguei a famosa “12”, e meio sem pontaria, só consegui eliminar a visita indesejável às 10 horas da manhã seguinte. Logo iniciei a dissecção e encontrei 14 Tilápias do Nilo de vários tamanhos, todas com mais de 10 cm. As redes de nylon monofilamento são uma boa proteção contra garças, bem-te-vis e martim-pescadores. Elas podem ser costuradas umas nas outras de modo a encaixarem sobre toda a superfície dos viveiros. Na primeira semana, após serem colocadas, já estavam repletas de pássaros enroscados, que por não conhecerem ou verem a rede ficavam presos. Depois de algum tempo ficaram um pouco mais espertos e evitavam pescar nos tanques cobertos, preferindo os açudes. Nos EUA, com o intuito de não matar aves aquáticas, foram desenvolvidos equipamentos disparadores sonoros a gás, imitando um tiro. Infelizmente os disparos não as impressionou o suficiente para que parassem de continuar trafegando pelo espaço aéreo e aquático das pisciculturas.
Tanques cobertos com rede não fazem a menor diferença para as lontras. O estrago é grande, pois ao invés de se satisfazerem com um determinado peso de alimento no estômago, entram nos tanques, retiram um camarão da Malásia apenas para chupar a cabeça. Depois escolhem um bonito tambaqui ou carpa, e comem apenas a lateral de um ou dão uma mordida no rabo do outro, deixando-os espalhados por toda a área. A proteção mais segura, segundo um amigo truticultor, é um alambrado com uns 2 m de altura cercando toda área de tanques, e enterrado o suficiente no solo para evitar que elas passem por baixo. Além disto, pode-se colocar cabelo humano – obtido no barbeiro mais próximo – ao longo do alambrado. Muitos animais silvestres não suportam o cheiro exalado pelo cabelo, evitando proximidade. Há também as cobras d’água, mas são poucas em número e preferem comer rãs. Ocasionalmente, andando pela periferia de um viveiro podemos escutar uma rã dando seus últimos coaxares desesperados já dentro da goela da cobra. Mas é dentro d’água que sofremos as maiores perdas. São as larvas aquáticas de libélulas, baratas d’água, besourinhos e hemípteros aquáticos que causam grandes prejuízos ao piscicultor.
Centenas de milhares de alevinos de peixes povoados em boa fé por criadores poderão ser perdidos para os insetos aquáticos sem que haja um pássaro, cobra, lontra ou ser humano por perto para se por a culpa. Debaixo d’água as pós-larvas e alevinos lutam para fugir dos insetos aquáticos. Contra estes, a melhor técnica é a do manejo. Utilizando o sistema do Dr. Elek e de técnicos húngaros da Agrober, preenche-se o viveiro com os adubos orgânicos (estercos) apenas no dia em que os ovos de peixes são fertilizados artificialmente. Assim, quando as pós-larvas de peixes forem povoadas no viveiro terão um “handicap” sobre muitos e variados predadores aquáticos, ao mesmo tempo encontrando um viveiro rico em zooplancton para se alimentar. Quanto ao controle de viveiros grandes, onde há dificuldade de obter água rapidamente, uma solução seria a utilização de inseticidas que eliminam insetos predadores. Assim há a vantagem de não se liquidar com os rotíferos, que são a base alimentar das pós-larvas. Essa solução deve ser aplicada dentro das especificações técnicas, pois o uso inadequado de defensivos agrícolas hoje é considerado um crime ecológico. Os peixes também são predadores.
Muçuns e traíras são os mais conhecidos na aqüicultura dulcícola, podendo arrasar uma criação de peixes ornamentais valiosos. O sairu é um terrível predador de camarões que assola viveiros nordestinos de carcinicultura marinha. Para combatê-los utiliza-se comumente a rotenona que os asfixia nas poças de viveiros vazios. Sendo um produto de origem biológica – é extraído de cipós – não há contra indicação. No entanto, deve-se evitar inalar o pó, pois pode causar asfixia. Finalizando, é preciso aprender quais são os predadores que mais afetam nossas criações nas diversas regiões e como evitar que tornem o cultivo racional seu meio exclusivo de sobrevivência. Embora reconheçamos que a aqüicultura pode modificar as condições locais em prol de uma maior produtividade, o equilíbrio ecológico deve ser mantido o mais próximo ao natural. A vigilância contra predadores se faz necessária para que o esforço de cultivo resulte no sucesso econômico do empreendimento.