Por: Philip Scott – Biólogo
Das espécies exóticas introduzidas no Brasil, poucas tem sido tão procuradas quanto a carpa-capim – Ctenopharyngodon idellus. As razões para isto são muito claras, destacando-se a eficiência com que elimina a vegetação aquática e ao excelente sabor de sua carne.
A obtenção de alevinos da espécie no Brasil, onde há o domínio da tecnologia, tem sido difícil dada a fragilidade das matrizes. A espécie, para os poucos que conseguiram alevinos, tem sido utilizada para controle de plantas aquáticas com resultados positivos.
Ela se alimenta de diversas espécies vegetais destacando-se 22 espécies de plantas flutuantes, 70 de plantas submersas, 64 de plantas emergentes e 13 de algas filamentosas.
Entre os aqüicultores, o motivo que os leva a desejar tanto a carpa-capim é o beneficio que elas oferecem limpando os viveiros ao &e alimentarem das algas e vegetais superiores que eventualmente crescem nos mesmos. Seguem algumas indicações com relação utilização das carpas capim no controle de plantas aquáticas.
RECOMENDAÇOES TÉCNICAS
Inicialmente, não há um tamanho máximo de área a ser tratada com a carpa-capim. Contudo, o corpo de água deve ser isolado de outros, para que não haja fugas, o que pode diminuir a eficiência do controle de plantas aquáticas pela redução da densidade dos animais.
Ainda visando manter a relação peixes x área, recomenda-se a instalação de uma cerca de aproximadamente 60 centímetros de altura sobre o nível máximo de água, o que evita a fuga dos animais que costumam saltar fora da água. A cerca deve ser colocada ligeiramente inclinada para dentro do reservatório, melhorando o controle de fugas.
A profundidade mínima e a temperatura da água local têm grande influência na eficiência do controle pretendido. A coluna mínima de água deve ser de 30 cm, enquanto no reservatório a temperatura mínima ideal é de 23°C, embora haja tolerância entre 15 e 30°C.
Quanto mais alta a temperatura da água maior o consumo de plantas aquáticas pelo peixe, embora este efeito possa ser mascarado porque as plantas também crescem mais com temperaturas elevadas.
A qualidade da água é outro fator de importância vital para o sucesso da criação da carpa-capim. A espécie tem exigências semelhantes àquelas requeridas pela maioria dos peixes de água doce, inclusive no que diz respeito aos teores de oxigênio – acima de 4 mg/l. A presença de produtos químicos, como pesticidas e metais pesados, pode ser danosa a toda vida aquática, conforme a concentração, influindo diretamente na saúde e eficiência da carpa-capim.
Convém destacar também que a carpa-capim evita lugares movimentados tais como pontes e vilarejos.
LIMITAÇÕES BIOLÓGICAS
A carpa-capim é hospedeira de ictioparasitos, inclusive alguns exóticos como a Lernea sp., que surgiram em países que importaram a espécie, dentre eles o Brasil.
Em cultivos intensivos tanques de reprodutores ou alevinos – onde pode ocorrer densidade de estocagem elevada, a carpa-capim é suscetível a enfermidades, enquanto em condições de cultivo mais extensivas, a mesma é considerada resistente.
Os predadores constituem o agente que causa maiores danos ao peixe e, com isto, reduzem consideravelmente o combate à vegetação aquática.
Para locais onde existam predadores maiores (como garças e lontras), recomenda-se o povoamento com exemplares mais desenvolvidos, com mais de 350 gramas, menos suscetíveis de serem capturados.
Muito apreciada pelo sabor da sua carne nos locais onde é nativa, a carpa-capim deve ser protegida da pressão pesqueira buscando-se, dessa maneira, manter a eficiência no controle das plantas aquáticas.
CONTROLE DE PLANTAS AQUÁTICAS
Em locais muito infestados de plantas aquáticas a recomendação é introduzir-se carpas-capim de variadas idades para melhores resultados. A literatura especializada sugere o povoamento inicial com 250 kg/ha de juvenis, com mais de 200 g por unidade.
De uma maneira geral, a carpa-capim prefere as partes macias de plantas em crescimento, particularmente brotos de sementes recém germinadas. Os indivíduos menores já se alimentam bem das raízes e folhas novas que aparecem ao nível da água. Incluindo a Eichornia spp. (aguapé). Plantas como a Typha (taboa) não são comidas por carpas-capim com menos de 100 gramas. Carpas com mais de 200 g não encontram dificuldade em comer as plantas mais duras, embora só o façam depois de esgotarem outras formas mais palatáveis.
Tabela 1 – Sugestões, para povoamento de carpa-capim para controle de plantas aquáticas.
CUSTOS
Na Alemanha e Holanda os custos de manutenção de canais e reservatórios com auxílio da carpa-capim ficam 50% mais barato do que quando feito com controle químico (herbicidas). Quando comparado à retirada mecânica das plantas aquáticas, o trabalho dos peixes representa apenas 25 % das despesas de manutenção. O decréscimo dos custos de manutenção com a carpa-capim varia em função de:
1) ação dos predadores (peixes, aves e mamíferos aquáticos piscivoros) e da pesca;
2) taxa de crescimento da carpa nas condições ambientais locais; e
3) integração com os métodos convencionais. v
Na análise dos custos do emprego da carpa-capim para a manutenção de espelhos de água devem ser considerados os recursos despendidos na obtenção dos alevinos, seja por aquisição ou produção, seja pela disponibilidade sazonal.
Embora as vantagens econômicas do uso da carpa-capim sejam bastante apreciáveis, vale lembrar que a espécie não se presta para realizar trabalhos de restauração de canais e corpos d’ água em completo abandono. Esta tarefa tem que ser feita com métodos tradicionais, ficando para o peixe a ação complementar de controle.
Inúmeras são as vantagens do uso da carpa-capim para combater a vegetação aquática, entre elas destacamos a não poluição ambiental, normalmente causada por outros métodos de controle; a diminuição da presença de parasitos humanos como a Bilharzia, Malária e Schistbzomose no meio ambiente e, principalmente, torna-se uma deliciosa fonte de proteína para a população local.