Produtora de camarão no RN é uma das vencedoras do prêmio ‘Mulheres na Ciência’

Marcia Kafensztok coordena fazenda no litoral do RN pioneira na produção de camarões sem uso de rações. Ela sonha em criar um instituto de pesquisas.

A produtora de camarão Marcia Kafensztok foi uma das vencedoras do prêmio “Mulheres na Ciência Américas”, da 3M, que premiou 25 mulheres na América Latina e Canadá, sendo 7 brasileiras. Marcia coordena uma fazenda em Tibau do Sul, no litoral Sul do Rio Grande do Norte, pioneira na produção de camarões e ostras nativas sem usar rações ou qualquer outro alimento artificial.

O resultado do prêmio foi divulgado nesta segunda-feira (8).

Em 2003, a empresa foi a primeira no Brasil a receber a certificação como fazenda de aquacultura orgânica e, nos últimos anos, passou a abrir cada vez mais as portas para as pesquisas acadêmicas.

Carioca, Marcia Kafensztok largou a carreira de designer para se dedicar exclusivamente a esse projeto, que foi criado pelo marido, o biólogo marinho Alexandre Wainberg, há 31 anos. Alexandre, que era mestre em bioecologia aquática e mentor do sistema de cultivo orgânico e multitrófico usado na empresa, morreu em 2015.

Marcia Kafensztok

Nos últimos anos, Marcia Kefensztok decidiu ampliar o potencial acadêmico da empresa ao assinar convênio com 21 universidades e institutos federais para recebimento de estudantes para estágio e pesquisas.

Mesmo antes disso, no entanto, trabalhos de graduação, mestrado e doutorado já haviam sido desenvolvidos na empresa.

Entre 2019 e 2023, a empresa também fez parte de um convênio internacional de pesquisas, o Consórcio AquaVitae, que contava com 36 entidades ao redor do Atlântico que pesquisavam organismos aquáticos. Com edital aprovado na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em 2023, a empresa vai desenvolver nos próximos três anos pesquisas com as ostras nativas produzidas no laboratório.

Como funciona a fazenda?

A fazenda da Primar, em Tibau do Sul, conta com nove viveiros produtivos em uma área de 42 hectares de lâmina d’água – o tamanho aproximado de 42 campos de futebol.

“Hoje temos produção comercial de camarões e ostras nativas, um laboratório de reprodução de ostras e vários projetos de pesquisas com organismos aquáticos estuarinos, como os cavalos-marinhos, micro e macro algas nativas”, explicou Marcia Kefensztok, coordenadora da Primar.

Pesquisas acontecem na empresa, que não utiliza rações para camarões

O objetivo da fazenda é buscar novas fontes de proteínas para alimentação humana, pesquisando organismos aquáticos estuarinos, mapeando seu processo reprodutivo, para depois reproduzi-lo em ambiente controlado e, posteriormente, cultivá-los em escala comercial, por meio da aquacultura orgânica e sustentável.

Ela explica que o camarão é um organismo que habita o piso do viveiro e que é possível cultivá-lo com as ostras, que são organismos filtradores e cultivados em travesseiros flutuantes, “que ficam na tona, na lamina d’água, se alimentando de microalgas”.

“O camarão e a ostra não competem pelo mesmo alimento e podem ser cultivados juntos ou consorciados nos viveiros”, reforçou.

Sonho: criar um instituto de pesquisa

A coordenadora da empresa, Márcia Kefensztok, hoje trabalha com um sonho: transformar a empresa em um Instituto de Pesquisas em Aquacultura Estuarina.

O objetivo é, segundo ela, “poder perpetuar e estender para as próximas gerações os estudos, pesquisas e conhecimentos que são a verdadeira vocação de produção da Primar”.

Atualmente, a empresa tem produção comercial de camarões e ostras nativas, um laboratório de reprodução de ostras e vários projetos de pesquisas com organismos aquáticos estuarinos, como os cavalos-marinhos, micro e macro algas nativas.

Ostras são acompanhadas durante todo o processo

“Entendemos que aquacultura é uma atividade relativamente nova, e que será através das pesquisas que iremos desenvolver novos produtos aquícolas”, explicou Márcia.

“Algumas espécies com as quais trabalhamos têm pouquíssima literatura a respeito de processos produtivos, e é com pesquisas constantes, registro dos dados, repetições e muita observação que vamos aprendendo e sistematizando o conhecimento de produção das espécies testadas aqui”.

Márcia explica que há ainda perspectiva de acrescentar mais organismos – que ainda estão em estágio de pesquisa -, nos viveiros e fazer várias espécies conviverem no mesmo espaço, “como é na natureza”.

Para ela, a principal característica da empresa, “além da produção orgânica e sua sustentabilidade”, é a produção de conhecimento na área da aquacultura estuária, que tem sido construída ao longo de mais de 30 anos em pesquisas.

“Entendo a aquisição de conhecimento como altamente transformadora na vida das pessoas”.

Cavalos-marinhos também fazem parte das pesquisas

Foto de abertura: Viveiro fica em Tibau do Sul, no litoral Sul do Rio Grande do Norte — Foto: Divulgação – G1 – Primar Aquacultura

Fotos: Divulgação – G1 – Primar Aquacultura

Créditos: Portal G1 RN