Projeto Pacu: o sucesso de quem apostou nas espécies nativas

Ao completar 10 anos, o Projeto Pacu muito tem a comemorar nessa sua primeira década de existência. Além do sucesso de seu desempenho empresarial refletido na sua grande capacidade atual de investimento na melhoria da sua produção, são motivo também de comemoração as boas novas que têm trazido a indústria da aqüicultura brasileira com a abertura de novos horizontes através das espécies nativas que vem pesquisando nesses últimos anos.

Como tantas outras empresas desse ramo, o Projeto Pacu começou instalado numa fazenda, onde cumpria a meta de produzir alevinos de pacu para consumo próprio. As dificuldades iniciais não abalaram os sócios, que com persistência e força não demoraram a perceber que tinham acertado em suas propostas e, logo no primeiro ano, a empresa de estrutura familiar instalada na Fazenda Santa Rosa, no município de Terenos, vizinho a Campo Grande-MS, passou a dedicar-se também a crescente demanda por alevinos vinda de diferentes pontos do país.

Os negócios cresceram, e logo outras espécies nativas vieram somar-se ao pacu dando impulso a um negócio que hoje envolve 28 pessoas distribuídas entre o bem montado escritório em Campo Grande e a fazenda com um fabuloso estoque de matrizes reprodutoras, bem montadas instalações para larvicultura e alevinagem e, uma bateria de raceways para engorda intensiva dentro dos padrões mais modernos vistos no cenário internacional

Espécies nativas

A partir de 1992, o Projeto Pacu estabeleceu novas técnicas de reprodução de peixes de couro, principalmente para o pintado (Pseudoplatystoma coruscans) e o cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), se tornando o primeiro produtor mundial a reproduzir essas espécies em cativeiro, com resultados voltados especificamente para reprodução em escala comercial, abrindo amplas possibilidades de desenvolvimento para a aqüicultura nacional.

Em 1993, foi desenvolvida tecnologia para reprodução de pirarara (Phractocephalus hemiolopterus) e até o momento o Projeto Pacu ainda é o único produtor mundial dessa espécie. O ano de 1994 foi dedicado ao dourado (Salminus maxillosus) e, desde então, sua produção tem se desenvolvido em escala comercial.

Além dessas espécies, a empresa atende ao mercado brasileiro com o pacu, piaussu, piraputanga, curimbatá, jiripoca, jurupensém e jaú. Esse alevinos têm destino certo. De forma geral, 5% ficam em Mato Grosso do Sul; 55% são comercializados nos demais estados brasileiros e os 40% restantes são direcionados a exportação, fazendo com que a empresa seja a segunda maior usuária de carga aérea da Região Centro-Oeste, atrás apenas da ECT – Empresa de Correios e Telégrafos.

O mercado externo, com destaque para o Japão, Alemanha e EUA, além de ser atendido com os alevinos das espécies acima mencionadas, vendidos como peixes ornamentais, também adquire alevinos de pacupeva (Myleus setiger) e outras 13 espécies de mandis (bagres). Para breve, à esta lista serão acrescentados o matrinxã, a piracanjuba e o peixe zebra (Merodontus tigrinus), verdadeira preciosidade no mercado internacional de ornamentais.

A performance do Projeto Pacu no mercado internacional, revela uma outra faceta da empresa que se destaca como única importadora regular do Estado do Mato Grosso do Sul.

Pintado e Piraputanga

Dois peixes vem atualmente merecendo especial atenção: o pintado e a piraputanga.

Segundo Jaime Brum, sócio e responsável técnico da empresa (foto), o pintado vem sendo pesquisado há vários anos por universidades e centros de pesquisa, porém o Projeto Pacu é o único produtor dessa espécie em escala comercial fornecendo alevinos há mais de quatro anos, colocando-os no mercado nacional e internacional. Sua carne branca, sem espinhas e com pouca gordura é sua principal qualidade, tendo ótima aceitação de consumo, sendo nos últimos anos a mais cara carne de peixe de água doce da América Latina, mantendo seu preço no atacado variando entre US$ 4.00 e 8.00 nos últimos cinco anos chegando ao consumidor final com preço entre US$ 8.00 e 18.00.

Os primeiros trabalhos com o pintado aconteceram em 1989 e até os dias atuais já foram comercializados cerca de 1,1 milhões de alevinos, com destaque para 1995, ano que mais se vendeu alevinos de pintado no Brasil, comercializados com cerca de 10 cm e preços que podem variar de US$ 0,80 a US$ 2.00 a unidade.

No mercado externo, alcançado há poucos anos, graças a dificuldade na ocasião de escoamento da produção do pintado no mercado nacional, os peixes são negociados menores, com cerca de 5 cm, para atender ao segmento de ornamentais.

Já a piraputanga, uma espécie que foi recentemente introduzida na piscicultura nacional pelo Projeto Pacu, apresenta excelentes características zootécnicas, como precocidade, boa conversão alimentar, alta produtividade, crescimento uniforme e rusticidade.

Tem uma carne de excelente palatabilidade que é muito bem aceita em sua região de origem – o Pantanal mato-grossense, onde seu preço oscila entre R$ 6,00 e R$ 8,00 o quilo. Entretanto, ainda não possui mercado consolidado a nível nacional. Quando apenas eviscerada, apresenta um ótimo aspecto. De grande potencial econômico, tem se mostrado uma espécie adaptável à piscicultura em regime intensivo. Sua precocidade pode ser medida da seguinte forma: alcança 250 gramas em 60 dias; 500 g em 120 dias (4 meses)) e o tamanho médio de abate (700 a 800 g) em 6 meses.

Raceways em construção para engorda super intensiva de pintado e piraputanga

Parcerias

A empresa desenvolve no momento, trabalhos de pesquisa e experimentos aplicados à criação e engorda do pintado e da piraputanga, tendo alcançado resultados técnica e economicamente viáveis, que poderão ser repassados ao empresariado do segmento, oferecendo suporte tecnológico necessário à expansão da atividade a nível nacional.

Criterioso e lógico em seus planejamentos, Jaime Brum diz que o sucesso da empresa deveu-se principalmente à capacidade do Projeto Pacu em fazer o que os outros não fazem, dominando desta forma, a reprodução e a alevinagem de espécies que outros produtores não dominam, como é o caso dos siluriformes (bagres) e dos Brycon.

Ciente da importância das parcerias, a empresa faz questão de reforça-las, como ferramentas importantes para manter sua posição no mercado. Assim sendo, mantêm importantes convênios com centros de pesquisas como o CEPTA, a Universidade Estadual de Maringá e a ESALQ-USP onde são desenvolvidos estudos de genética de siluriformes.

Mas o Projeto Pacu, resolveu não parar por aí e decidiu expandir ainda mais seus negócios. De maneira programada, foram construidos relacionamentos sólidos gerando outras parcerias, como a que vem sendo implantada na Fazenda Santo Antônio no município de Dourados. Lá, encontra-se em fase final de construção, um empreendimento de 45 hectares onde se instalará os padrões de produção atualmente preconizados pela empresa. São viveiros com tamanho médio de 4,5 ha onde pintados e piraputangas, receberão alimentação mecanizada através de veículo tratador e serão despescados com auxilio de redes de 250 metros de extensão, numa operação também mecanizada. Sem dúvida, padrões bastante diferentes daqueles comumente vistos nas fazendas brasileiras.

Parcerias como essa, voltadas para a engorda de peixes nobres que alcançam preços “premium”, fazem parte da estratégia do Projeto Pacu para explorar o potencial do mercado de carnes, através de produtos de qualidade e oferta regular. Para Jaime Brum, a empresa que se lançar de imediato, será capaz de se tornar líder deste segmento de inegável potencial, por estar envolvida em um negócio de lucratividade elevada, produzindo um produto nobre. Destaca ainda, que o investidor estará concorrendo com a pesca que apresenta produções decrescentes e tem colocado no mercado produtos de qualidade inconstante.

Produções Externas

Outro tipo de parceria realizado pelo Projeto Pacu são as chamadas Produções Externas. Trata-se da produção de alevinos onde todo o trabalho é feito na propriedade do interessado. É necessário um estudo prévio para conhecer o espaço do cliente e as facilidades disponíveis. Nesta parceria, o Projeto Pacu entra com os reprodutores e a mão-de-obra. As instalações para técnicos ficam por conta do cliente. As vantagens dessa parceria expressam-se no preço final do alevino, que fica 50% mais barato e na sua qualidade, já que não há o estresse de transporte. O perfil do cliente que se adapta a esta parceria é aquele que realmente necessita de grande quantidade de alevinos.

Super-intensivo

Para chegar na frente, o Projeto Pacu despende um grande esforço em pesquisas o que acarreta custos operacionais elevados. Certa do sucesso da engorda do pintado e da piraputanga, mesmo em sistemas super-intensivos, a empresa está em fase final de construção de um desses sistemas que se resumem numa bateria de 14 raceways ovais (foto) de 100.000 litros cada.. O projeto permite que sejam feitas limpezas criteriosas dos fundos dos tanques, que terão todo o seu volume d’água renovado três vezes a cada hora, e que sejam acionados sistemas de emergência em caso de qualquer problema com o abastecimento. O sistema estará funcionando até o final de 1996, quando o Projeto Pacu estará fechando o ano com sucesso, marca registrada da empresa que terá condições de ganhar novos espaços numa atividade em plena expansão.