Rações Fabricadas pelo Aqüicultor

Por: José Eurico Possebon Cyrino 
Dep. de Zoologia da ESALq – USP
e-mail: [email protected]


Ainda que a utilização de rações comerciais tragam vantagens, como as preconizadas pelo Prof. José Eurico Cyrino do Departamento de Zootecnia da ESALQ-USP, muitos produtores ainda assim, preferem elaborar suas próprias rações, cada qual levado por um motivo pessoal (ver box).

Os produtores, ao optarem por fabricar suas próprias rações, geralmente o fazem pelo processo de pelletização e tal escolha, se deve, principalmente, aos custos das máquinas extrusoras.

Máquinas de moer carne, desde os modelos caseiros manuais até as que são utilizadas em açougues, são ainda utilizadas para fabricação de pelletes. Entretanto, equipamentos próprios para a pelletização encontram-se à disposição no mercado.

A Chavantes Ind. e Com., é uma empresa especializada na fabricaçào desses equipamentos e, além de fabricar as pelletizadeiras que são utilizadas nas principais indústrias de rações do país, fabrica também modelos considerados de pequeno porte, voltado para produtores que desejam fabricar a sua própria ração. A vedete é o modelo com 7,5 HP, capaz de produzir em média 100 kg de ração pelletizada por hora, com a vantagem de ser de fácil montagem e operação. A prensa pelletizadeira de 7,5 HP, segue para o cliente pré-montada, bastando apenas colocar a moega sobre o alimentador e apertar os parafusos de fixação.

O resfriador que a acompanha, já segue completamente montado e pode ser instalado levando-se em conta a disponibilidade de espaço no local.

A opinião de quem fabrica

…quando se tem acesso a matéria prima com facilidade é vantagem fazer a ração, mas nem sempre é fácil. Quando se tem matéria prima boa, de boa qualidade, é vantajoso. A principal vantagem é o custo. É mesmo muito mais barato se produzir a própria ração. Algumas vezes pode se ter um ganho de peso maior com a ração comercial, depende, mas o preço chega a ser 40% mais caro dependendo da região que se vive. Se a fazenda fica distante de um centro comercial, como é o nosso caso, fica muito caro comprar a ração pronta e é mais prático e vantajoso fabricar a própria ração. Engordei piaussu e pacu com ração feita em casa; piraputanga eu preferí engordar com ração extrusada porque ela vem comer mais em cima e, a ração que a gente faz, afunda mais rápido. José Primo Dambros – Fazenda Douradense – Dourados – MS

…sou criador de tambaqui, matrinxã e curimatã em 14 hectares alagados em Manaus. O que me levou a produzir minha própria ração foi a necessidade de diminuir custos. As rações comerciais são muito caras e produzindo minha ração ganhei cerca de 50% na diferença de preço. As rações comerciais chegam a Manaus a R$ 0,80 o quilo e eu posso produzir a R$ 0,40. Meu consumo é de uma tonelada por dia de ração porque faço também para bois e suinos. A mesma máquina serve para todo tipo de cultivo, ela faz pelletizada e farelada, só o que muda é a formulação. Faço uma ração específica para cada espécie criada e a economia de 50% é igual para todas. Outra vantagem é sei o que está sendo colocado na composição da ração. Se eu disser que ela tem 36% de proteína é por que tem. Sou eu quem faz e nessa eu acredito, na dos outros não. Em Manaus é fácil adquirir soja, milho e toda matéria prima necessária, só que é caro. Só a minha produção anual de tambaquis é de 30 toneladas, mas pretendemos chegar a 60. José Itamar – Fazenda Repropesca – Manaus – AM.

…crio o pacu e a piraputanga. O custo foi o principal motivo de fazermos nossa própria ração. A diferença de custo é grande e a máquina é muito fácil de manusear. Essa ração que eu produzo, sai R$ 0,20 o quilo e a industrializada pelletizada não sai por menos de R$ 0,38 ou R$ 0,40. Estamos no celeiro do Pais que é Mato Grosso do Sul, e toda ração industrializada que chega na região vem geralmente do sul, de São Paulo e o alto custo de frete e ICMS torna a ração inviável. Nós aqui temos matéria prima barata. Aqui na região, temos farelo de soja, milho, farinha de carne. De fora, só a farinha de peixe e o farelo de trigo. Além disso, na propriedade a energia rural é barata, então compensa muito, ainda mais que tudo que se produz na propriedade eu aproveito para os peixes. Com relação a taxa de conversão, acredito que melhorou, porque quando condicionamos um peixe para ração pelletizada, o aproveitamento dele é bem melhor. Gilberto Schwarz de Mello piscicultor na Chapada dos Guimarães – MS

…a meu ver, a vantagem principal de se fazer ração é saber o que estamos dando para os nossos peixes. Quando a gente dava a ração pronta não sabíamos. Apesar de ter tudo marcado na embalagem a gente não sabia a verdade. Não que tenhamos tido problemas com a ração comercial, mas tivemos um retorno de 30% a mais na engorda em todas as espécies que criamos com a ração fabricada por nós. Aqui na propriedade, criamos em 70 mil metros quadrados a tilápia, tambacu, pacu e bagre. Aproveitamos na ração a matéria prima da nossa fazenda. As fábricas de ração dizem que são melhores, mas basta ver que a maioria dos criadores de animais, peixes ou não, fabrica a sua própria ração. José Cavalheiro Simon – Agropecuária Citro Simon – Socorro – SP

 

Pelletização

É a operação de moldagem por extrusão termoplástica, na qual partículas finamente divididas de um produto único ou de diversos ingredientes são aglomerados ou comprimidos em uma forma compacta e de fácil manejo, o pellet ou grânulo. O termo “termoplástica” significa dizer que uma quantidade de ingredientes se amolece ao ser aquecida e torna-se dura ao ser resfriada.

Vantagens

Dentre as vantagens apresentadas por um produto pelletizado podemos citar em primeiro lugar que a combinação de umidade, calor e pressão sobre um produto de alimentação natural de alta energia, produz um grau de gelatinização (transformação dos açúcares), que vem ajudar os animais na melhor utilização dos ingredientes, melhorando sensivelmente a conversão alimentar. Além disso, a ração pelletizada evita a alimentação seletiva por parte dos animais com ingredientes preferidos. Na pelletização, todos os ingredientes são moldados juntos e o animal é obrigado a comer a formulação total. Isto evita perdas e permite uma alimentação convenientemente balanceada.

A pelletização evita a segregação (separação) no transporte da ração, dos ingredientes após misturados, uma vantagem, por exemplo, nas rações medicadas, onde a pelletização evita concentração desproporcionais tanto dos medicamentos como dos micro-ingredientes.

Outra vantagem é que a pelletização aumenta a densidade da ração, reduzindo portanto o espaço para a armazenagem; melhora as características do material, facilitando a movimentação, transporte e estocagem, devido a forma densificada e redonda que o material adquire. A pelletização reduz ainda, as perdas naturais se comparada com a ração farelada. Isto se comprova pela ação do vento em comedouros.

Pelletizando sem utilização de vapor

Pelletizar rações é uma operação que pode ser executada com facilidade, desde que sejam observados alguns procedimentos importantes.

Umidade

A umidade ideal para o processo de pelletização está em torno de 15%, podendo variar de 14% a 16%. A ração quando muita seca dificulta a pelletização, devendo ser adicionada água quando a ração ainda estiver no misturador para adequar a umidade em torno de 15%. Na prática, pode se dizer que a umidade da ração está boa para pelletização quando se comprimimos uma pequena porção com mão e esta porção fica levemente aglomerada. A umidade quando muito alta, pode emplastar nos roletes e obstruir os furos da matriz, não permitindo a pelletização ou, mesmo quando pelletiza, ocasiona o aparecimento de fungos, embolorando totalmente a ração.

Granulometria dos ingredientes

Os ingredientes que vão compor a ração a ser pelletizada devem estar bem triturados, pois, quanto mais finos mais fácil será a pelletização.

Gordura e proteína

Os produtos ricos em gordura e com alto teor de proteínas, são excelentes para pelletização, tais como farelo gordo de arroz, soja moída, farelo de soja, etc…O milho moído e o farelo de trigo também são produtos excelentes para a pelletização.

Fibra

Todo produto fibroso é prejudicial ao processo de pelletização, devendo sempre entrar em proporções pequenas nas formulações, experiência que o operador adquirirá ao explorar a capacidade e melhor performance do equipamento. Os produtos ricos em gordura e com alto teor de proteínas, são excelentes para pelletização, tais como farelo gordo de arroz, soja moída, farelo de soja, etc…O milho moído e o farelo de trigo também são produtos excelentes para a pelletização.

Dicas para Pelletização

Para o início do processo, é necessário que se prepare aproximadamente 20 quilos de ração farelada e adicione-se 2 litros de óleo de soja (óleo de comida). Em seguida, liga-se o motor principal e alimenta-se a prensa manualmente através da tampa de inspeção da bica alimentadora. Pelletiza-se então, todo este farelo oleoso, deixando a matriz pré-aquecida e com furos cheios de farelo oleoso. Feito esta operação, separa-se este material pelletizado com óleo para ser reutilizado.

Quando a matriz já estiver pré-aquecida e com os furos cheios de produtos oleosos, liga-se o motor do alimentador e abre-se a regulagem de alimentação gradativamente. Esta regulagem pode ser aumentada de acordo com a capacidade de produção da prensa, que varia bastante com o tipo de produto a ser pelletizado e o diâmetro dos pellets produzidos. Esta regulagem será determidada pelo operador da prensa, pois seu ponto de estrangulamento por excesso de produto na matriz, faz parar todo o equipamento.

A ração pelletizada deve ser colocada no resfriador para perder a caloria adquirida durante o processo de pelletização. Para uma melhor capacidade de resfriamento, o resfriador deve trabalhar sempre cheio de produto. Portanto, deve-se iniciar o descarregamento deste, somente após estar totalmente cheio.

Para a parada do processo de pelletização, primeiramente fecha-se a gaveta da moega, depois a regulagem de alimentação e em seguida desliga-se o motor do alimentador.

Para um melhor reinicio da operação, só com o motor principal ligado, passa-se novamente o produto pelletizado com óleo. Em seguida desliga-se o motor principal deixando o equipamento pronto para a próxima jornada. É importante que este procedimento seja repetido em todo final de trabalho.

No reinício da pelletização, não será mais necessário passar o produto com óleo, pois os furos da matriz já estarão lubrificados bastando apenas fazer as ligações dos motores. Caso ocorra embuchamento da matriz (entupimento muito forte dos furos) devido um excesso de carga ou uma ração muito seca, deve-se antes de iniciar a operação, limpar todos os furos da matriz com auxílio de uma furadeira manual.

I SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE EXTRUSÃO APLICADA À RAÇÕES PARA ANIMAIS E AQÜICULTURA

Nos próximos dias 9 a 12 de março, o Centro de Convenções do Hotel Monte Real na cidade de Águas de Lindóia em São Paulo receberá conferencistas brasileiros e outros vindos do México, da Suíça, da Alemanha, Austrália, Canadá e dos Estados Unidos para aquele que deverá ser o maior evento Internacional sobre ração animal no ano de 1998.

Com o objetivo de fomentar e divulgar os conhecimentos científicos e tecnológicos do setor e, proporcionar uma oportunidade de encontro entre a indústria, técnicos, pesquisadores, professores e estudantes, o Departamento de Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos FEA–UNICAMP estará promovendo o Internacional Symposium on Animal and Aquaculture Feedstuffs by Extrusion Techinology junto ao I Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Extrusão Aplicada à Rações para Animais e Aqüicultura, que constará de palestras técno-científicas com tradução simultânea, com especialistas nacionais e estrangeiros. Além de apresentação de trabalhos de pesquisas em forma de posters, paralelamente ao evento, será realizada uma Feira de Exposição de aparelhos, equipamentos e produtos dos setores de rações e extrusão.

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No I SEXTRAAQ serão discutidas a situação atual e a perspectiva da aqüicultura e da indústria de rações, seus aspectos nutricionais e qualidade, processos de elaboração e equipamentos utilizados, o uso de biotecnologia na produção, novos produtos, insumos e, recentes avanços e tendências na aqüicultura.

Maiores informações sobre o evento poderão ser adquiridas com coordenador do Simpósio no Brasil, Yoon Kil Chang da UNICAMP nos fonefax: (019) 239-3617, 239-4638, pelo e-mail: [email protected] e na home-page: http://www.fea.unicamp.br (clicar em eventos).