Por: João Donato Scorvo Filho e
Luiz Marques da Silva Ayroza Zootenistas e
pesquisadores científicos do Instituto de
Pesca da Secretaria de Agricultura e Abastecimento – SP
As perspectivas de mercado para a piscicultura tem se mantido animadoras uma vez que, os pesque-pagues continuam com boa freqüência e novos estabelecimentos tem surgido.
A produção nacional para a safra 95/96 foi estimada, em 30 a 40 mil toneladas de peixes, sendo o Estado de São Paulo responsável por 15 a 20% desta produção (5 a 7 mil ton.) e apenas no Vale do Ribeira as associações de criadores locais estimam uma produção de 3.000 ton. a serem obtidas nesta safra.
Acredita-se que hoje existam entre 500 a 600 pesque-pagues apenas no Estado de São Paulo, com maior concentração nas regiões próximas à capital como Campinas, Sorocaba e Bragança Paulista.
A demanda advinda destes pesqueiros ajudou muito na implantação definitiva da piscicultura profissional, mas podemos dizer que ainda estamos numa primeira fase dessa atividade em nosso país. Esta fase pode ser caracterizada pelo aparecimento de inúmeras pisciculturas de pequeno e médio portes e com pouca tecnologia, onde a produtividade está em torno de 500 a 600 gramas por metro quadrado.
Esta fase deverá ser seguida de outra com maiores produções, através da tecnificação das criações, aumento da área alagada, custos e preços mais baixos tendendo a uma estabilização nos próximos anos, sem a euforia dos primeiros tempos.
A viabilização do processo de transportes de peixes a longas distâncias, tem possibilitado a outros estados concorrerem no mercado paulista com a entrada de peixes do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e até mesmo de Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Espirito Santo e Goiás. Esta concorrência baixou os preços de um patamar de US$ 3.80 a US$ 4.00 entre outubro/dezembro de 1995, para US$ 2.60 a US$ 3.30 em fevereiro/março de 1996. O pacu especificamente, tem sido vendido na faixa de US$ 2.90 a US$ 3.30 o quilo colocado na propriedade do comprador.
O custo de produção em São Paulo em comparação a outros estados, tem se apresentado um pouco maior, estando na faixa de US$ 0.80 a US$ 1030, dependendo da espécie ou do sistema de criação.
Uma nova fase com maior produtividade e custos menores, deve surgir em breve, destinando grande parte dessa produção ao atendimento de supermercados e hipermercados, que estão ávidos por este produto, mas não conseguem fornecimento regular.
Outra alternativa de mercado seria o peixe processado, porém é um pouco mais complexa, por necessitar de peixes com preços ainda mais baixos e contar com a concorrência feita pelos países do Mercosul. Ela, poderá ser viabilizada com a produção do bagre africano, que hoje não é bem aceito nos pesque-pagues, mas tem bom rendimento de postas e de filé, podendo ser aproveitado nas filetadoras.
A espécie de peixe de maior demanda ainda é o pacu (e seus híbridos). Esta preferência se dá, principalmente, por não existir ainda outra espécie nativa que tenha seu processo criatório tão bem definido como o do pacu. Existe uma expectativa com relação aos bricons (matrinxã, piracanjuba, piraputanga, entre outras) mas seus alevinos ainda não são encontrados em grande quantidade e o manejo de engorda ainda não está muito bem definido.
Neste início de inverno, algumas piscigranjas do Estado de São Paulo não conseguiram colocar seus estoques de peixes redondos. Este fato não se deu por falta de comprador, mas sim, pela falta de planejamento do piscicultor, que não colocou a venda o seu peixe antes da metade do outono, quando apresentava temperatura da água que permitia o manejo dos viveiros.
A partir de maio, a grande procura recaiu sobre as carpas e tilápias que, por não terem sido encontradas com facilidade próximo a Grande São Paulo, tiveram seus preços majorados, chegando no caso da tilápia a mais de US$ 2.30 o quilo na propriedade. As chamadas Saïnt Peter são vendidas pelo preço de US$ 4.00 a US$ 5.00, dependendo da cota mensal estipulada pelo produtor para os compradores.
Berçário
Com relação as técnicas criatórias dos peixes redondos e da carpa, a duração do ciclo produtivo, hoje, pode chegar a menos de 16 meses para aqueles que povoam os viveiros com alevinos de aproximadamente 5 cm e não utilizam o sistema de berçário. Já, para os que aplicam o sistema de berçário e povoam os viveiros de engorda com juvenis de 8 cm (60 a 80 gramas), o tempo não ultrapassa 13 meses. Existem hoje, criadores que adquirem estes juvenis realizando apenas a engorda em 9 ou 10 meses. O uso de sistema de berçário tem influenciado também na sobrevivência final do ciclo, que está em 40-60% no primeiro caso e 80-90% no segundo.
O sistema de criação da tilápia varia um pouco daquele utilizado para os peixes redondos, pois, são usadas densidades maiores, de até 6 peixes por metro quadrado, com auxílio de aeradores e peixes machos revertidos. O uso de esterco com fertilizante da água e mesmo como alimento direto é comum e, o peso final de venda é de 500 gramas, que são obtidos entre 6 a 8 meses.
Com relação ao preço de alevinos, o milheiro pode variar de US$ 42.00 para o pacu de 1,5 cm vindo do nordeste; US$ 80.00 para o pacu de 4 cm produzido ou colocado em São Paulo e US$ 400.00 para pacu de 60 a 80 gramas (juvenis).
A ração usada é, preferencialmente, a extrusada que, tem preço variando conforme a região. No Estado de São Paulo, mais precisamente no Vale do Ribeira, os produtores estão pagando em média US$ 0.37/kg, no Vale do Paranapanema US$ 0.41/kg (média) podendo chegar em outros lugares a US$ 0.44/kg. Este preço tem variado muito com a capacidade de organização e negociação do piscicultor que, quando consegue comprar a ração diretamente da fábrica, através de grupos organizados como associações ou cooperativas, obtêm preço bem mais baixos.
Os piscicultores têm encontrado problemas no que diz respeito a doenças e conseqüente mortalidade. Estes problemas tendem a se agravar no momento em que se intensificarem as criações, com o aumento das densidades de estocagem e pouco monitoramento da qualidade da água.
No processo de comercialização, as doenças detectadas ao nível do produtor e o manejo inadequado no transporte tem causado muita perda e provocado discussões acaloradas sobre quem assume os prejuízos, se é o comprador ou o vendedor.
Finalizando, poderíamos dizer que já é notada uma maior profissionalização do produtor de peixes e alevinos e transportador/comerciante, havendo uma seleção natural, onde os mais despreparados estão aos poucos sendo eliminados do mercado.