Produção aqüícola até o ano 2020 deverá ter um crescimento de 19% ao ano
O público presente no Seminário Internacional de Aqüicultura e Pesca que se realizou no auditório do BNDES, no Rio de janeiro, em 17 e 18 de novembro último, foi bastante eclético. Lá estavam pescadores artesanais, presidentes de cooperativas e associações, armadores, raros aqüicultores, estudantes, pesquisadores e funcionários públicos ligados ao setor.
Logo na primeira manhã Angel Gumy, do Departamento de Pesca da FAO, apresentou um painel sobre a produção de pescados no mundo, com dados detalhados que fazem parte da excelente publicação “El estado mundial de la pesca y la acuicultura – 2002”. Logo a seguir o brasileiro Roland Wiefels, da Infopesca – Uruguai, analisou o perfil do consumo e do consumidor brasileiro, bem como os fatores que têm favorecido o consumo de pescado no Brasil e no mundo. Na apresentação dos quadros que ilustram o consumo de pescados ao redor do mundo, o Brasil pode ser visto entre aqueles que menos consomem pescados, com seus 6,8 kg/per capita/ano. Para se ter uma idéia, o consumo médio mundial é de 16 kg/pessoa/ano. Na China o consumo per capita é de 22 kg/ano, nos EUA é de 21 kg, na União Européia é de 30 kg, na América do Sul é de 9 kg e na África Ocidental é de 12 kg.
O destaque da apresentação de Roland Wiefels no Auditório do BNDES foi, porém, suas estimativas de consumo da população brasileira para o ano 2020, quando, em sua opinião, seremos uma população de 220 milhões de brasileiros que deverão estar consumindo como atualmente consomem os povos da União Européia, ou seja, 30 kg/per capita/ ano.
Nessas condições hipotéticas, no ano de 2020 o Brasil deverá estar abastecido com 6.6 milhões de toneladas de pescados, das quais apenas 770 mil toneladas serão provenientes da pesca extrativa (Wiefels considerou que não haverá incrementos expressivos na atual captura da pesca brasileira), e os demais 5.8 milhões de toneladas, deverão ser provenientes da indústria aqüícola nacional. Segundo Roland Wiefels, isso significa multiplicar a produção aqüícola de 2001 por 28 até o ano 2020, ou seja, um crescimento de 19% ao ano.
Wiefels não exagerou e não mostrou nada que não devamos descartar; muito pelo contrário. Nada mais justo que os brasileiros consumam pescados como os europeus, principalmente diante das nossas vocações aqüícolas.
Um detalhe, porém, deve ser destacado: a taxa de crescimento anual necessária para atender o consumo de pescado em 2020 é três vezes maior que a taxa atual de crescimento da aqüicultura em nosso país, estimada em 8.8 % ao ano e expõe a responsabilidade da SEAP em colocar lenha na sua fogueira para acelerar o desenvolvimento do setor com uma política agressiva de fomento, sob pena de sermos, em breve, um dos grandes importadores mundiais de pescados (se acharmos onde comprar). Outro detalhe: por sorte o ministro José Fritsch estava na primeira fila e tem fama de ser um bom ouvinte.