SIMBRAq´94

Sob um forte calor, Piracicaba recebeu os associados da ABRAq para a realização do VIII Simpósio Brasileiro de Aqüicultura.

Do evento participaram 316 profissionais e estudantes inscritos e incontáveis paraquedistas de diversos estados brasileiros, muitos vindos de longe, em ônibus especialmente fretados para o evento.

Para abrilhantar o VIII SIMBRAq, os organizadores apostaram na presença de técnicos estrangeiros que foram os responsáveis pelos ciclos de palestras que ocuparam boa parte de todas as manhãs do evento.

MODELO DE DESENVOLVIMENTO

John W. Jensen, professor e especialista em extensão da Auburn University, Alabama – USA, abriu o ciclo de palestras com o tema “Fatores sócio-econômicos para o desenvolvimento da aqüicultura”.

Ao longo dos últimos anos, Jensen acompanhou de perto o desenvolvimento da aqüicultura nos EUA, e hoje convive com o florescente mercado do catfish americano Ictalurus punctatus. Para ele, esse modelo de desenvolvimento pode ser considerado o melhor modelo de desenvolvimento de aqüicultura no mundo e, a seu ver, tal fato com certeza não aconteceu acidentalmente. Na verdade, foi com o suporte de empresas públicas e privadas, que todos os ingredientes disponíveis para o alavancar o cultivo do catfish foram criteriosamente reunidos, bem como todas as necessidades foram previamente indentificadas. O resultado dessa química é o que todos conhecemos.

A partir desse modelo, Jensen destacou alguns critérios que devem ser seguidos na escolha adequada de uma espécie de peixe. São eles: ter todo o seu ciclo biológico conhecido desde o ovo até a formação de estoque de matrizes reprodutoras; maturação sexual somente após ter alcançado seu peso de despesca; ser resistente ao manejo e a doenças; adaptar-se bem a alimentaçãoatravés de rações balanceadas; ter um eficiente percentual de aproveitamento após beneficiamento; ser bem aceito pelos consumidores; ter boa vida útil nas prateleiras; e proporcionar um custo de produção menor que seu valor de mercado.

Muitas espécies de camarões e peixes como a carpa chinesa, bagre, truta, salmão ou tilápia, possuem essas características. Segundo Jensen, potencialmente existem “”” muitas espécies brasileiras que são boas candidatas para aqüicultura, entretanto, até que sistemas de produção sejam desenvolvidos para essas espécies, a maior parte dos desenvolvimentos na aqüicultura dependerá ainda de espécies exóticas.

A seguir, John Jensen analisou as condições extremamente favoráveis dos diversos climas, solos e recursos hídricos existentes no Brasil e de que forma esses fatores facilitam o estabelecimento de um programa de desenvolvimento da nossa aqüicultura. Com vasto conhecimento da aqüicultura brasileira decorrente dos anos em que aqui residiu, JohnJensen aproveitou para criticar o que chamou de síndrome da semana santa, frisando que o sucesso na aqüicultura não pode estar baseado na comercialização em uma semana de preços altos e sim ao longo de 52 semanas com suprimento consistente, qualidade e preços médios que alcancem boa rentabilidade.

Em outro momento de sua palestra, JohnJensen alertou os aqüicultores brasileiros para que fiquem atentos às legislações anti-aqüicultura de modo que providências possam ser tomadas para que os organismos governamentais sejam influenciados a oferecer suporte ao invés de deter o desenvolvimento da atividade.

Programas de extensão, sua especialidade, foram enfatizados para o sucesso da atividade. Em sua opinião, o Brasil não pode abrir mão de um programa de extensão atuante para identificar e comunicar os problemas do campo aos centros de pesquisa, e agilizar o retorno dessas informações aos produtores. E lembra aos estados e municípios, que todos os recursos gastos em programas de extensão serão pagos rapidamente com o desenvolvimento da indústria.

INTENSIFICAÇÃO

Leonard L. Lovshin foi outro especialista norte-americano da Auburn University presente ao VIII SIMBRAq e que, a exemplo de John Jensen, também já residiu alguns anos no Brasil, sendo inclusive casado com uma brasileira.

O tema de sua palestra foi “Piscicultura intensiva, potencial, problemas e perspectivas”. Len, após apresentar e analisar as diferentes estratégias de cultivo (extensiva, sem i-intensiva, intensiva com aeração e troca parcial de água, raceway, gaiolas e intensivo com circuito fechado), falou das dificuldades encontradas por alguns países em desenvolver sistemas que necessitam de grandes áreas, seja pela falta de disponibilidade ou preços elevados.

Ao contrário, devido às dimensões e a estrutura fundiária, o Brasil possui inúmeras e vastas áreas de terras baratas e não desenvolvidas. Mesmo assim, a falta de estradas, eletricidade e outras infra estruturas acabam atraindo os piscicultores brasileiros às proximidades dos centros consumidores. Em decorrência, o quadro se reverte, o custo das terras sobe e a qualidade da água cai, fazendo com que haja uma tendência para a adoção de sistemas mais intensificados, com custos de instalação e operacionalização mais elevados e potencialmente mais agressivos ao meio ambiente.

Para Len, as estratégias para engorda de peixes e camarões na próxima década são dífíceis de serem previstas, entretanto é certo que sistemas de cultivo intensivo e semi-intensivos desempenharão um papel muito importante.

John Plumb, também da Auburn University e Angelo Antônio Agostinho da Universidade de Maringá, também fizeram parte do ciclo de palestras.

O primeiro falando de imunologia de peixes, e o segundo sobre os efeitos da introdução e treslocamento de espécies de peixes.

O terceiro dia do VIII SIMBRAq foi aberto por outro convidado estrangeiro ao evento, Albert Tacon da F AO – Itália, que apresentou a palestra “Produção de alimentos para organismos aquáticos em regiões tropicais”. Seu trabalho foi sustentado pelos mais recentes dados sobre a aqüicultura mundial compilados pela sua organização.

As projeções de crescimento da atividade, principalmente para a região da América Latina e Caribe apresentadas por Albert Tacon Il1_recerão oportuna abordagem na Panorama da AQUICULTURA. Da Universidade do Porto, veio o Dr. Carlos Azevedo para proferir importante palestra sobre sua especialidade: Protoparasitas da fauna marinha.

Calorosas mesas redondas, concorridos minicursos e monótonas reuniões dos grupos de trabalhos arremataram este VIII SIMBRAq.