Síndrome de Taura

Por S. K. Johnson

A Síndrome de Taura tem sido um tema bastante discutido na Aqua-l, um grupo (ou lista) que se reúne virtualmente através da Internet para discussões em torno de temas relacionados a aqüicultura.

Na garimpagem das mensagens enviadas sobre a Síndrome de Taura, uma doença virótica responsável por grandes transtornos em diversos países, uma delas se destacou pelo seu conteúdo didático. A mensagem foi enviada por S. K. Johnson, especialista em patologia da Texas A & M – University em College Station. Texas, USA, que após uma breve introdução responde a perguntas simples que muitos gostariam de fazer.


A doença denominada Síndrome de Taura (ST) foi identificada pela primeira vez no Equador, em 1992, em camarões cultivados nas fazendas situadas próximas a boca do rio Taura, no Golfo de Guayaquil. A partir de então, a doença se espalhou pela América Central e Havaí. Em maio deste ano, a doença foi identificada pela primeira vez no Texas, no Vale do Rio Grande.

São de milhões de dólares as perdas estimadas em decorrência da doença nas Américas Central e do Sul. O impacto sobre o cultivo no Texas ainda não foi determinado mas as perdas serão substanciais.

A espécie de camarão afetada é a Pennaeus vannamei, o camarão branco do Pacífico, a principal espécie cultivada nas Américas.

Inicialmente, a causa da Síndrome de Taura estava associada com fungicidas utilizados nas plantações de banana. Posteriormente um vírus (que passou a ser denominado vírus de Taura) foi consistentemente associado aos camarões afetados pela ST. O vírus, tipicamente, afeta os camarões pequenos durante o primeiro mês após a estocagem (0,1 a 5 g), acarretando perdas que alcançam 80-90% da população.

O alvo principal do vírus é o tecido localizado logo abaixo da carapaça e os sobreviventes costuma ter também manchas escuras e erosivas na carapaça.

Na última década, um outro vírus, semelhante a um parvo vírus, tem sido um problema nos estoques cultivados de Pennaeus vannamei e P. stylirostris (camarão azul do Pacífico). A indústria norte-americana de cultivo de camarões tem despendido muitos esforços para evitar a introdução desse vírus através da utilização de uma linhagem de camarões que é constantemente monitorada e conhecida por ser isenta deste vírus (linhagem SPF – specific pathogen-free).

Parte do vírus encontrado nos camarões afetados pela Síndrome de Taura foram utilizados no verão de 1994 em bioensaios para se conhecer a suscetibilidade de diferentes camarões. Os resultados preliminares indicam que a linhagem do P. vannamei utilizada nos cultivos dos EUA são mais suscetíveis a infecções que as pós-larvas selvagens, normalmente utilizadas em cultivos tropicais. Além disso, P. stylirostris foi muitíssimo menos suscetível ao vírus de Taura que P. vannamei . Lamentavelmente, P. stylirostris é muito mais sensível ao parvo vírus que o P. vannamei.

É importante frisar que essas doenças viróticas foram recentemente descobertas e muito tempo ainda será necessário para, através de investigações científicas, se determinar respostas para o seu manejo.

Algumas perguntas comumente feitas a respeito da Síndrome de Taura.

Ela afetará os camarões nativos?

Não existem evidências científicas conclusivas que digam que o vírus de Taura ou outro vírus de camarões representem risco zero para os camarões nativos. Entretanto, estudos ainda não conclusivos realizados pelo Dr. Don Lightner da Universidade do Arizona, compararam a contagiosidade do P. vannamei com os camarões nativos dos EUA (camarão marrom P. aztecus e camarão branco P. setiferus). Os resultados indicam que os nativos são relativamente não afetados. Alem disso, algo ainda poderia ser dito sobre as diferenças nos ecossistemas. Essas doenças viróticas são conhecidas somente na aqüicultura, onde os camarões são mantidos em densidades muito maiores daqueles que habitam as águas abertas. Acredita-se também, que o principal meio de transmissão em sistemas de aqüicultura seja através do canibalismo, quando camarões sadios se alimentam dos doentes. Um tipo de contato que ocorre muitíssimo menos no ambiente natural.

Não tem sido reportadas mortalidades em massa no ambiente natural associadas a doenças viróticas, apesar do desenvolvimento da aqüicultura em muitas regiões. Com respeito a mortalidades brandas, os dados são também inexistentes e, por outro lado, os meios de detecção deste tipo de fenômeno são pouco confiáveis.

O vírus de Taura pode afetar a saúde das pessoas?

Não. Os vírus são específicos em suas necessidades. Os camarões são muito diferentes dos seres humanos. Embora os invertebrados sejam conhecidos como vetores de vírus o ser humano, problemas ocasionados por esse ou outro vírus de camarões não parecem ser possíveis de acontecer.

Como ele chegou até aqui (Texas – USA)?

A fonte de infecção nos viveiros do Texas é ainda desconhecida, e isso ainda vai demandar um estudo cuidadoso. As evidências preliminares indicam que, ao menos aparentemente, as fontes não tenham sido as larviculturas que operam no Texas. Os viveiros de camarões são sistemas abertos onde todo tipo de troca biológica pode ocorrer, além da água ser captada dos estoques naturais. Uma vez contaminado, a disseminação pode ser feita através de aves, camarões doentes, insetos aquáticos e, possivelmente, aerossóis.

Quais serão as conseqüências para a indústria aqüícola local?

As perdas no município de Cameron são grandes. Muito esforço e recursos serão necessários para implementar os manejos práticos para restaurar as operações, além, é claro, dos recursos perdidos com a quebra da produção. Esforços já estão sendo feitos para que as fazendas afetadas possam mudar da espécie P. vannamei para a espécie nativa de camarão branco (Penaeus setiferus). A mudança de espécie é uma das poucas opções de manejo que os produtores tem quando estão diante de doenças viróticas. Diante do curso dos acontecimentos fica a dúvida se os laboratórios locais serão capazes de produzir pós-larvas em número suficiente para estocar nos tanques para a safra 1995.