A Fundação Rainforest é parte de um conjunto de ações que a Noruega adotou em 2016, quando se tornou a primeira nação a assumir compromisso com o desmatamento zero no planeta. Incumbida de monitorar processos relativos ao tema, em outubro passado, divulgou, em conjunto com a organização não-governamental Future in Our Hands, um relatório no qual acusa três grandes produtores brasileiros de soja de desmatamento ilegal, apropriação ilegal e violenta de terras, utilização de pesticidas ilegais e uso de mão-de-obra análoga à escrava. As acusações tiveram reflexo sobre as trades Caramuru, Selecta e Imcopa, por venderem soja para a indústria norueguesa do salmão, e terem os produtores acusados no seus quadros de fornecedores do grão.
Em depoimento ao jornal norueguês Dagbladet – que revelou conteúdo do relatório –, a Selecta negou irregularidades, enquanto a Caramuru contestou algumas das conclusões do relatório, e a Imcopa disse que um dos produtores citados já foi um fornecedor importante em anos anteriores, mas agora fornece menos de 3% do volume total que a empresa comercializa.
A produção de soja no Brasil ameaça a subsistência de camponeses pobres e povos indígenas, e nós não podemos aceitar isso”, disse Anja Bakken Riise, da Future in Our Hands. Para o diretor da Rainforest Foundation Norway, Øyvind Eggen “foi a primeira vez que vimos que a indústria aquícola norueguesa usa soja de atores que podem estar ligados ao desmatamento. É muito grave. A indústria da aquicultura precisa reduzir o consumo de soja. Além disso, deve exigir que seus fornecedores limpem as compras de soja proveniente de desmatamento ilegal”, disse. De acordo com Erlend Sødal, diretor da norueguesa Skretting, líder mundial do mercado de rações para aquicultura, as alegações do relatório são “completamente inaceitáveis para a Skretting. Se o relatório estiver correto, há uma violação do nosso Código de Conduta do fornecedor, que todos os nossos fornecedores devem assinar e viver. Já solicitamos reuniões com a alta administração dessas empresas, e já contratamos um auditor independente no Brasil para verificar o relatório e as práticas de produção”, disse. Já o vice-presidente da BioMar, Jan Sverre Røstad, reconheceu que sua empresa comercializava com a Caramuru, Selecta e Imcopa, comprando entre 20 mil e 60 mil ton de soja/ano. Apesar de chamar as alegações de “preocupantes”, Røstad disse que o Brasil tem sido o único mercado capaz de oferecer soja não geneticamente modificada, a única alternativa permitida para a Noruega. E garantiu que, tanto a BioMar, como empresa, e todos os seus produtos, devem ter um perfil claro de sustentabilidade, razão pela qual a BioMar tem requisitos rigorosos para seus fornecedores e só adquire matéria prima dos que são certificados.