Tanques-rede

E SISTEMAS ALTERNATIVOS DE
CAPTURA PARA GRANDES LAGOS

Por: Philip Connoly – Engenheiro de Pesca


Tanques-rede e sistemas alternativos de captura para grandes lagos

O cultivo de peixes em jaulas flutuantes de bambú, começou no lago Mundung, Jambi, na Indonésia em 1922 (Reksalegora, 1979). Posteriormente, estendeu-se para outras partes ao Sul de Java onde se engordavam carpas em pequenos cercados, que eram instalados em pequenos cursos d’água. Segundo Pantaiu (1979) as primeiras notícias de cultivo em cercados fixos, também vêm do Sudoeste da Ásia, onde pescadores estocavam bagres do gênero Clarias e outros peixes comerciais em cestos de bambú e junco , até estarem prontos para o mercado.

Desde a década de 70, que o cultivo em tanques-rede se estendeu a mais de 35 países, na Europa, Ásia, África e América do Norte. Em 1978, já se criavam experimentalmente mais de 70 espécies de água doce (Coche, 1978). Gradativamente os materiais naturais como bambú, madeira e junco foram substituidos por materiais sintéticos, especialmente panagens de redes de nylon.

Hoje, o cultivo em tanques-rede é desenvolvido em larga escala, especialmente na criação de trutas e salmões no mar, tilápias, bagres e carpas em água interiores.

No Brasil, o cultivo em tanques-rede está apenas começando. A piscicultura nacional sempre foi desenvolvida em estações terrestres, fixas, construídas em barro ou concreto, aproveitando a vazão de córregos ou barragens. O desenvolvimento foi rápido e nos últimos 15 anos a aqüicultura já ocupa um papel fundamental no abastecimento de pescados.

No Brasil, a piscicultura é inteiramente dependente da engorda de peixes em ambientes fechados, onde o manejo ou despesca possam ser realizados com facilidade.

Atualmente, a nossa aqüicultura está saindo das estações de pesquisa e ganhando espaço junto aos produtores rurais de todo o Brasil. Todas as bases de piscicultura do governo estão voltadas para a “extensão”, ou seja, a transferência de toda a tecnologia adquirida nas pesquisas de produção. Neste ponto, a análise do custo x benefício, passa a ser a primeira condição. Reduzir investimentos e aproveitar as condições naturais de uma fazenda, são as principais metas de qualquer produtor.

A piscicultura em viveiros de barro, nem sempre é adotada nas propriedades rurais. Em geral opta-se pelo peixamento de pequenos lagos ou represas, já existentes na fazenda. Esta metodologia vem sendo usada a muitos anos, através de programas de governo, que distribuem alevinos para o povoamento de açudes, mas nem sempre tem sucesso, devido aos seguintes fatores:

– o peixamento com alevinos muito pequenos, acarreta altas taxas de mortalidade, devido a predação natural; e

– dificuldade da despesca em médios e grandes reservatórios.

O desenvolvimento da aqüicultura no Brasil, tem um potencial limitado, especialmente no aproveitamento dos grandes manaciais hídricos e na maricultura. A utilização de tanques-redes e o desenvolvimento de sistemas alternativos de captura, certamente são as respostas para o domínio da piscicultura em lagos naturais.

TANQUE-REDE

A utilização de tanques-rede na aqüicultura moderna é muito diversificada especialmente para as seguintes tarefas:

1 – Cultivo intensivo de peixes e camarão marinho em grandes mananciais.
2 – Formação de alevinos, 50 a 100 gramas, para peixamento de represas.
3 – Confinamento, armazenamento, depuração de reprodutores ou de peixes para o mercado.
4 – Estocagem e seleção natural, por tamanho, do camarão da Malásia.

O cultivo intensivo e a formação de alevinos são as duas primeiras respostas para o aproveitamento dos grandes mananciais do Brasil.

A piscicultura em tanques-rede, está sendo pesquisada pela CEMIG na usina de Volta Grande, pela CODEVASF no Vale do São Francisco, pela ITAIPÚ-BINACIONAL, CEPTA/IBAMA em Pirassununga, Pela Universidade Federal de Santa Catarina, pela Universidade do Mar em Angra dos Reis e por muitos produtores particulares em todo o Brasil. As principais espécies cultivadas experimentalmente em tanques-rede são: pacu, tambaqui, carpa, truta, tainha e recentemente o robalo.

Além do cultivo intensivo, a formação de alevinos em tanques-rede, vem superar as dificuldades e os fracassos nos peixamentos de lagos naturais. Em geral, as bases produtoras não podem formar alevinos de 50 a 100 gramas, devido a falta de espaço, pelos custos e pela dificuldade de transportar peixes deste porte . A fazenda que recebe, prefere comprar alevinos pequenos devido ao baixo preço e pela facilidade de conduzir grandes quantidades, mas geralmente, também não dispõe de tanques para aclimatação e simplesmente soltam os pequenos peixes diretamente nos açudes. No final ficam sonhando com grandes peixes nadando nos seus lagos mas após a despesca constata-se a inexistência dos mesmos. Causa Mortis: predação por espécies nativas.

O emprego de tanques-rede apenas para a aclimatação e formação de alevinos é a primeira resposta para solucionar estes problema’.

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DOS TANQUES-REDE

O tanque-rede, também conhecido por cage net ou pond net, é construído utilizando-se panagens de nylon multifilamento, que são muito resistentes, flexíveis e de fácil manuseio. As panagens são montadas a tralhas de polipropileno (cordas) nas dimensões desejadas. A instalação do tanque-rede depende apenas de uma armação flutuante na superfície, onde a rede é fixada em quatro pontos. A parte submersa não necessita de armações rígidas o que facilita a despesca ou acompanhamento. Para observar os peixes basta levantar a panagem. A flexibilidade do tanque-rede é uma característica de fundamental importância, que facilita a limpeza ou substituição sem traumatizar os peixes.

Quanto maior a malha melhor a circulação da água, menor a obstrução por algas e menor o custo. Aconselha-se modelos quadrados ou hexagonais que facilitam a circulação interna dos peixes.

Malhas mais utilizadas nos tanques-rede são:
5mm Alevinos
8 mm Alevinos / Juvenis
13 mm Juvenis / Engorda
18 ou 20 mm Engorda / Confinamento

Dimensões para confinamento, estocagem, maniseio ou engorda
largura
Comprimento
Altura
Malha
2 m
2 m
1 m
5 mm
3 m
3 m
1,2 m
8 m
3,6 m
3,6 m
1,3 m
18 m
5 m
5 m
2 m
* maior tamanho possível
10 m
10 m
4 m
* maior tamanho possível

MONTAGEM DE TANQUES-REDE

Em profundidades inferiores a 2 metros recomenda-se a armação dos tanques através de estacas, é mais econômico, prático e de menor custo. Sistemas flutuantes são recomendados para profundidades superiores a 3 metros, ou para facilitar o manuseio de tanques-rede de grandes dimensões através das plataformas.

SISTEMAS ALTERNATIVOS DE CAPTURA EM GRANDES RESERVATÓRIOS

O peixamento de represas com alevinos de 50 a 100 g engordados em tanques-rede certamente será a solução para o aproveitamento de todos os mananciais do Brasil, mas o segundo ponto de estrangulamento do desenvolvimento da piscicultura nessas áreas será a despesca. Muitos desses lagos não podem ser esvaziados ou possuem obstáculos naturais que impedem a utilização de métodos tradicionais de pesca.

O Brasil necessita de tecnologias alternativas de captura que possibilitem um completo domínio sobre o manejo dos cultivos extensivos em lagos naturais. Um projeto de pesquisa está sendo implantado pelo IBAMA em Pirassununga, através do CEPSUL e o CEPTA com o objetivo de desenvolver artes alternativas de pesca para aqüicultura. A pesquisa será iniciada na primavera de 92 e terminará no verão de 93.