Já pensou em um biofertilizante que vai do mar para a lavoura? A Epagri e a UFSC já. E a proposta está virando realidade em Palhoça, município da Grande Florianópolis líder nacional na produção de mariscos. Lá está sendo produzida a macroalga Kappaphycus alvarezii, que depois de processada se transforma em biofertilizante. Segundo o Decreto 4.954, biofertilizantes são “produtos que contêm princípio ativo ou agente orgânico, isento de substâncias agrotóxicas, capaz de atuar, direta ou indiretamente, sobre o todo ou parte das plantas cultivadas, elevando a sua produtividade, sem ter em conta o seu valor hormonal ou estimulante”.
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A Epagri, em parceria com a UFSC, desenvolve projeto desde 2008 para estudar a viabilidade de produzir esta macroalga no litoral catarinense. A pesquisa apontou que o Estado tem capacidade de produzi-la, sem risco ao meio ambiente e agregando valor à cadeia produtiva da maricultura.
No ano passado os maricultores de Palhoça receberam autorização dos órgãos ambientais para iniciar a produção comercial do vegetal. Era só o que Raulino de Souza Filho, mais conhecido como Nino, esperava. Ele, que já cultivava a alga de modo experimental em parceria com a Epagri, investiu em maquinário e montou a estrutura necessária para produzir o extrato de alga, matéria-prima para produção do biofertilizante. Trabalhando ainda de forma experimental, sem pretensões comerciais, ele conseguiu produzir no ano passado 36 mil litros do extrato.
Desafio
Foi o passo inicial de um desafio que Nino mesmo se colocou: transformar sua empresa Verde Água na maior produtora de biofertilizante de macroalga do país. Nada que o assuste, já que a Cavalo Marinho, da qual é sócio, é hoje a maior produtora de mexilhão do Brasil.
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O apoio da Epagri tem sido essencial na realização desse objetivo, atesta Nino. No dia 25 de maio, por exemplo, o extensionista da Epagri em Palhoça, Edson Carlos de Quadra, proporcionou um encontro entre o maricultor e a gerente geral da Fecoagro, Elisete Fátima Squena. Ela foi até a Praia de Fora conhecer o cultivo e a unidade de processamento de Nino e ficou encantada com o que viu.
“Eu acho que o produto tem futuro como fertilizante”, atesta ela, destacando a expansão do mercado de orgânicos no país como mais um impulsionador do novo negócio. Ela entende que a olericultura e fruticultura podem ser especialmente beneficiadas pelo biofertilizante de alga.
Elisete ficou também impressionada com a extensão do projeto colocado em prática pela Epagri e UFSC, que está desenvolvendo tecnologias que vão desde o plantio até o envase do produto. Ela não descarta uma futura parceria entre Feacoagro e o produtor para colocar o biofertilizante no mercado, mas enquanto isso não acontece, afirma que a instituição vai apoiar, indicando indústrias que possam se interessar pela matéria prima.
Posicionamento no mercado
Alex Alves dos Santos, pesquisador da Epagri/Cedap, explica que os estudos seguem para detalhar a composição do biofertilizante em cada estação do ano, já que a alga se desenvolve de maneira distinta em diferentes temperaturas de água. Serão analisadas os macro e micronutrientes presentes em amostras do vegetal colhidas no verão, inverno, outono e primavera.
Com o resultado desta avaliação, os pesquisadores poderão definir as propriedades específicas do biofertilizante, o que vai permitir posicionar o produto no mercado. “É uma cadeia produtiva nova, que está começando a ser implantada, então, são muitos os desafios, sendo que o principal é o posicionamento do produto no agronegócio nacional”, relata Alex.
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O maricultor Nino já está com tudo planejado para fazer de seu extrato de alga um destaque no mercado de biofertilizantes. Ele, que já aplicou R$ 200 mil no negócio, diz que esse investimento pode chegar na casa dos milhões, e não se assusta. Sua intenção é se concentrar na manufatura e comercialização do biofertilizante. “A probabilidade maior é que eu produza no máximo 5% das algas necessárias, o resto pretendo comprar de outros produtores”. Ele já começou a sensibilizar os colegas maricultores, que poderão produzir a macroalga paralelamente aos seus cultivos originais.
O extensionista Edson de Quadra conta que cerca de 30 maricultores de Palhoça já manifestaram interesse de ingressar na produção de macroalgas. Atualmente o município, que conta com 223 fazendas marinhas, é o único do Estado que tem todos seus parques aquícolas liberados para o cultivo do vegetal.
Além das vantagens econômicas, o extensionista lembra que a produção de macroalgas também vai trazer ganhos ambientais para Palhoça, já que ela absorve nutrientes da água do mar para crescer e formar grandes volumes de biomassa. Com isso, ela ajuda a combater a poluição marinha e melhorar a qualidade de água, ação importante para a sanidade aquícola dos mexilhões e das ostras, que são organismos filtradores marinhos e, portanto, dependentes de água de boa qualidade.
Por: Gisele Dias