Por:
Alberto J.P. Nunes
Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC)
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2005 foi um ano de mudanças em todos os setores da cadeia produtiva da carcinicultura marinha, desencadeadas por novos desafios técnicos e econômicos. Muitas fazendas de engorda alteraram seu modelo de produção para lidar com a Mionecrose Infecciosa, popularmente conhecida como NIM, uma doença causada pelo vírus IMNV, o agente responsável pelas principais transformações ocorridas recentemente na indústria do camarão cultivado. O presente artigo revê algumas das principais mudanças técnicas ocorridas na atividade em 2005, detalhando alguns pontos de relevância e realçando as oportunidades para reverter o quadro atual.
Modelo de produção
A redução drástica nas densidades de estocagem dos viveiros foi o ponto de partida para diversas mudanças ocorridas no modelo produtivo estabelecido no Nordeste. Nessa Região, o modelo de engorda se desenvolveu sob o pilar do cultivo intensivo e da alta produtividade. Previa-se que o processo de intensificação e a busca por produtividades mais elevadas levariam a indústria a adotar o sistema trifásico de cultivo, com a engorda seqüenciada de camarões em tanques pré-berçários, raceways e viveiros de engorda. Contudo, com a descapitalização do setor, associada às perdas e riscos econômicos inerentes ao IMNV, os empreendimentos migraram para um regime de cultivo semi-intensivo, o qual requer um menor aporte de insumos (ração, pós-larvas, energia elétrica e mão-de-obra) e consequentemente uma menor mobilização de capital financeiro.
O cultivo semi-intensivo é o sistema de produção de camarão mais popular na América Latina, apresentando as seguintes características básicas:
1) trabalha com a renovação de água dispensando o uso de aeradores mecânicos;
2) adota o arraçoamento a lanço ao invés da distribuição de ração exclusiva em bandejas;
3) realiza a fertilização orgânica e inorgânica para favorecer o desenvolvimento do alimento natural primário e secundário, e;
4) faz o povoamento direto em viveiros sem uso de pré-berçários intensivos.
Em alguns empreendimentos as densidades foram reduzidas para 30-35 camarões/m2, devido à situação de financiamento bancário no qual a fazenda fica condicionada a atender metas anuais de produção ou a um melhor manejo e condição ambiental. Em outros, as reduções foram mais significativas alcançando-se 15 camarões/m2 ou menos. O objetivo principal destas reduções foi realinhar os custos de produção à atual realidade econômica e técnica da atividade.
O IMNV
A constatação e a aceitação de que a atividade não está isenta de uma doença viral de impacto econômico, bem como o reconhecimento de que o IMNV é, de fato, o agente primário promotor das mortalidades de camarão, afastou definitivamente o ceticismo que intranqüilizava a indústria em 2004.
O IMNV interfere principalmente nos custos de produção das fazendas, guiado pelo aumento descontrolado no Fator de Conversão Alimentar (FCA). Na carcinicultura, o FCA é um índice de alto impacto financeiro e sensível às mortalidades de camarão, que ocorrem durante o ciclo produtivo. Ao contrário de outras doenças virais do L. vannamei, o IMNV provavelmente associado a outros patógenos, age de forma letal exatamente na fase intermediária da engorda (7,0 – 9,0 g), quando os animais já consumiram entre 40-60% de toda ração empregada no ciclo produtivo.
Em 2005, fazendas no Piauí, Ceará, no litoral Norte do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco continuaram a sofrer com os efeitos do IMNV. Nesta primeira área geográfica, o impacto da doença sobre a sobrevivência dos camarões, porém, foi fortemente atenuado devido principalmente à redução nas densidades de estocagem. Apesar de pontualmente algumas fazendas não terem obtido êxito na melhoria dos índices de sobrevivência, já é possível encontrar, com freqüência, sobrevivências médias entre 60-75% para densidades de até 35 camarões/m2.
Nas fazendas localizadas na costa oriental do Rio Grande do Norte, observou-se uma maior ação do vírus apenas em 2005. Nesta área o IMNV, que já se manifestava de forma branda, tornou-se mais agressivo no primeiro semestre do ano, trazendo conseqüências semelhantes às encontradas em 2004 na área geográfica inicialmente afetada, com sobrevivências inferiores a 50%. Entretanto, ainda são desconhecidas as razões que retardaram a ação do vírus nesta região. No litoral baiano, também se relatou a ocorrência do IMNV em 2005, mas sem grande influência na produção.
Seguramente, duas hipóteses foram consolidadas em relação à ação do IMNV: a alta densidade de estocagem (> 35 camarões/m2) funciona como um fator estressor que favorece a manifestação da doença, e; a estação chuvosa no Nordeste, que se caracteriza como um período de maior ação do vírus.
Com base nestas observações, muitas fazendas adequaram seu planejamento produtivo a ação sazonal da doença, reduzindo as densidades de estocagem no período invernoso (primeiro semestre do ano). Esta estratégia objetiva reduzir o risco econômico, principalmente para controlar o FCA, e produzir camarões com classificação igual ou inferior a 50-60 peças por quilo (camarões de 16,7 a 20,0 gramas), numa época em que se torna atrativo o preço dessas classificações. Já no segundo semestre do ano, uma inversão no nível de intensificação é realizada, adotando densidades mais elevadas com intuito de despescar camarões de 12 g ou menores, de acordo com os preços praticados.
Outras doenças
Em 2005 descobriu-se que o Nordeste tinha também o vírus da Mancha Branca (WSSV). O primeiro relato de ocorrência da doença na região foi feito em 16 de maio de 2005, em uma pequena fazenda de camarão localizada no Ceará. A notificação oficial ao Departamento de Saúde Animal (DSA), do Ministério da Agricultura, ocorreu em 23 de maio de 2005 e ao Escritório Internacional de Epizootias (OIE), em 4 de agosto de 2005. Até o momento, não existe nenhum indício da manifestação ou ação do WSSV em fazendas do Nordeste ou relatos de sua propagação ou recorrência no seu ponto inicial de detecção. A possibilidade de uma pequena carga de WSSV ainda contida em uma única área geográfica, a dominância ecológica do IMNV nos cultivos inibindo uma sucessão pelo WSSV, ou a ausência simultânea de fatores ambientais que desencadeariam a ação do vírus, são hipóteses para explicar a não propagação ou ação do WSSV no Nordeste.
Também foram feitos, em 2005, relatos de uma forte ocorrência do IHHNV (Infecção Viral na Hipoderme e Necrose do Tecido Hematopoético), doença viral que se manifesta no L. vannamei através da Síndrome do Nanismo Deformativo (RDS). O IHHNV é comum nos camarões produzidos no Nordeste, afetando cerca de 3-5% da população cultivada. A doença é derivada de reprodutores infectados com o IHHNV e causa um efeito indesejável sobre a homogeneidade do peso dos animais cultivados, resultando em tamanhos de camarões muitos diferenciados e nanicos durante o cultivo e na despesca.
Doenças não-virais como a Hepatopancreatite Necrosante (NHP) e a gregarina também tiveram uma influência expressiva na produção de 2005. O NHP é ocasionado por bactérias gram-negativas do grupo das Ricktesia, e resulta no amolecimento da carapaça e da cauda do camarão. Em estágios mais avançados, o NHP provoca o escurecimento das brânquias e dos apêndices, atrofia o hepatopâncreas e causa baixo crescimento. Já as gregarinas são protozoários coccídeos, que são parasitas extracelulares que ficam geralmente presos ao revestimento do intestino do animal, reduzindo sua capacidade de absorção de alimento, influenciando negativamente as taxas de crescimento e o FCA.
As poliquetas são um dos principais hospedeiros das gregarinas em viveiros, proliferando em ambientes com solos com classificação textural fina e (ou) com teor elevado de material orgânico particulado. Ambas as doenças podem ser tratadas se detectadas no seu estágio inicial. Para o combate da gregarina, algumas fazendas têm empregado com êxito o extrato da vassourinha-de-botão (gênero das Borreria), planta com propriedades antidisentérica e bactericida, comumente encontrada próxima aos taludes e diques de viveiros de camarão. Em outros casos, tem-se utilizado ração medicada com monensina sódica, um ionóforo muito utilizado em avicultura para atuar como inibidor do crescimento e desenvolvimento de coccídios. Contra o NHP se popularizou o uso do limão e alho, apesar de ser ainda questionável a sua eficácia.
Rações
Programas de alimentação por fase de crescimento do camarão e por estação do ano, se tornaram mais comuns em 2005. O programa por fase de crescimento preconiza a redução dos níveis protéicos da ração com o aumento no peso do camarão. Antes, o cultivo de camarão era realizado com rações contendo 40% de proteína bruta (PB) da fase de PL10 até 3,0 g e, em seguida, forneciam-se rações com 35% PB até a despesca. Atualmente, para densidades mais elevadas, migrou-se para rações com 30% PB a partir de um camarão de 9,0 g, sem que tenha ocorrido uma aparente perda de desempenho durante o período mais quente do ano. As rações com menores níveis de PB, entre 25% e 30%, também passaram a ser empregadas durante todo o ciclo para densidades abaixo de 10 camarões/m2.
Ao contrário do que se esperava, o uso de rações mais caras, de alto desempenho com um perfil nutricional mais agressivo, difundiu-se entre muitos produtores. Face aos desafios hoje observados nas fazendas e a convergência das metas de produção de produtividades altas para maior velocidade de crescimento dos camarões, os benefícios destas rações passaram a ser mais facilmente percebidos e valorizados, principalmente em determinadas épocas do ano. As rações de alto desempenho apresentam níveis de vitaminas e minerais mais elevados, aditivos com propriedades imunoprotetoras, osmoreguladoras e atrativas, além de um maior aporte de farinha de peixe importada, melhorando a digestibilidade e o perfil de aminoácidos da ração. As rações de alto desempenho devem ser empregadas de forma alternada (uma semana sim, outra semana não) em uma das alimentações do dia, em períodos críticos do ano, como na fase de menores temperaturas e/ou maior variação térmica da água devido a uma maior ação dos ventos. Em alguns estados da Região Nordeste, este período pode compreender os meses de julho até novembro.
Ambiente de cultivo
Coincidentemente, a maior prevalência da gregarina e provavelmente de outras doenças tem sido associada a viveiros com grande acúmulo de matéria orgânica (MO) no solo. A presença de MO em viveiros é comum e indispensável para o equilíbrio ecológico do viveiro, mas sua concentração não deve ultrapassar os 5%. Apesar do problema de MO acumulada em viveiros de engorda de muitas fazendas ser tão crônico quanto o IMNV, ele ainda continua sendo ignorado ou despercebido.
O acúmulo de MO pode estar associado a vários fatores:
1) falta de práticas de correção do solo;
2) uso de águas super-eutrofizadas (transparência < 25 cm) durante o cultivo;
3) dificuldade no rápido controle da transparência da água no início dos ciclos de engorda ou viveiros muito rasos, ambos favorecendo o crescimento de algas filamentosas no fundo;
4) textura do solo, associada à sua baixa capacidade de reciclar a MO, e;
5) uso contínuo de altas densidades de estocagem ou de ciclos longos de cultivo.
Muitas vezes, os procedimentos padrões de tratamento do fundo (secagem, revolvimento e calagem) não são adequados para a classificação textural do solo predominante no viveiro ou são insuficientes para reduzir as concentrações de MO.
A mineralização da MO no solo de viveiros é feita naturalmente por meio de bactérias através do processo de nitrificação. Viveiros com solo sob condição anaeróbica (sem oxigênio), pH ácido ou na presença de metais pesados, reduzem ou limitam a atividade microbiana no substrato do viveiro, diminuindo ou cessando o processo de nitrificação. Nestas condições, as alternativas são:
1) a remoção manual ou mecânica do material acumulado após a despesca, evitando-se descartá-lo em áreas susceptíveis a erosão ou lavagem;
2) aporte de fertilizantes nitrogenados no solo à base de nitrato para promover a desnitrificação, e/ou;
3) aplicação de uma fonte de carbono (melaço) para equilibrar a relação C:N (carbono e nitrogênio) do solo.
Os protocolos de fertilização adotados nas fazendas têm eliminado o uso de uréia e de fertilizantes orgânicos animais, migrando para o nitrato. Além disto, intensificou-se o uso de silicato como tentativa de promover a floração e a dominância de diatomáceas. Atualmente, reconhece-se que as cianofíceas predominam nas águas de muitos viveiros de engorda e que isto está associado a uma condição de super-eutrofização. Essa, em particular, ocorre devido a uma alta concentração de nitrogênio derivado de material orgânico acumulado no solo, de ração não consumida, fezes de camarão e uso excessivo ou desnecessário de fertilizantes nitrogenados. Também existem, cada vez mais, sinais de uma inter-relação entre uma maior incidência do IMNV e da dominância do grupo das cianobactérias na água de cultivo, algas que podem funcionar como hospedeiras para o vírus.
Manipulação da comunidade bacteriana
Em 2005, a aplicação de melaço na água de cultivo se tornou uma prática corriqueira em algumas fazendas do Nordeste. A inoculação isolada de bactérias na água de cultivo ou por meio de coquetéis utilizando uma combinação de melaço, farelo de trigo e probióticos também passou a ser mais freqüente, inclusive sendo destinadas áreas isoladas do empreendimento para produção, mistura e ativação das bactérias por aeração.
O melaço possui níveis elevados de carbono e pode favorecer o crescimento de bactérias heterotróficas no ambiente de cultivo, auxiliando na reciclagem da MO e na redução da concentração de compostos nitrogenados. O farelo de trigo é empregado como substrato bacteriano, enquanto o melaço para contrabalançar a relação C:N. Esta prática também ajuda a controlar, por exclusão competitiva, a presença de organismos oportunistas no viveiro, como Vibrios, que causam a vibriose e agem de forma secundária, mas letal em camarões infectados com o IMNV. As aplicações de melaço devem aumentar proporcionalmente com a maior oferta de ração no viveiro para que a relação C:N fique próxima de 15:1. Uma condição indispensável para a formação de bactérias no ambiente de cultivo é a disponibilidade de oxigênio. Com a aplicação de melaço, as bactérias passam a competir por oxigênio com os camarões e com a comunidade primária (fitoplâncton).
Sistemas heterotróficos
Em 2005, alguns experimentos comerciais foram iniciados para validar o sistema de cultivo ultra-intensivo adotado por alguns países, como Belize e Tailândia. Este sistema de engorda pode ser operado sob altas densidades (150 camarões/m2), viveiros com liner (manta de PVC), uso de aeração e renovação “zero” de água, podendo gerar produtividades superiores a 18 ton/ha/ciclo. O sistema baseia-se na:
1) biossegurança e desinfecção total da água e de apetrechos de cultivo, com uso de pós-larvas livres de patógenos específicos;
2) intervenção e manipulação da comunidade heterotrófica bacteriana através do balanceamento da relação C:N;
3) uso intensivo de aeração mecânica para promover a oxigenação e a circulação da água mantendo suspensa a MO produzida no meio.
O uso de liners no fundo do viveiro é dispensável, desde que uma efetiva limpeza e desinfecção do solo sejam realizadas antes do povoamento dos animais. Este sistema, apesar de ser aparentemente um contra-senso à situação atual da atividade, pode na verdade representar uma alternativa viável para a indústria. Uma grande parte das fazendas existentes no Nordeste foi arquitetada para operar sob sistema intensivo, com viveiros pequenos e profundos, recirculação, alta densidade de estocagem e uso contínuo de aeração mecânica. No atual sistema intensivo adotado no Brasil, após o viveiro ter alcançado sua maturação, depois de 5-6 ciclos de engorda, a limitação imperativa do ambiente de cultivo para operar sob densidades mais elevadas passa a ser a maior predominância de patógenos oportunistas secundários e ao acúmulo desenfreado de MO. O sistema heterotrófico permite controlar a ação destas variáveis.
Larvas e genética
Em 2005, observou-se uma menor resistência do L. vannamei frente a variações ambientais, manejo e doenças quando comparado a 2004. Isto pode ser atribuído ao problema de consangüinidade em que a espécie se encontra no país. Dados não confirmados sugerem que a última introdução do L. vannamei no Nordeste ocorreu em 1997. Em 1999, uma portaria do Ministério da Agricultura proibiu que fossem feitas novas importações da espécie como medida preventiva para evitar a introdução de doenças de impacto econômico para atividade.
Mesmo frente a esta problemática, ainda se observam laboratórios que não adotam critérios técnicos no processo de seleção de matrizes, coletando-as diretamente de fazendas, desconhecendo a origem do animal, a forma na qual foram cultivados e a condição sanitária e nutricional que se encontravam. Em outros casos, questiona-se o programa alimentar, ao qual as pós-larvas foram submetidas. Apesar disto, observou-se em 2005, iniciativas positivas por parte de alguns laboratórios, como o fechamento do ciclo produtivo da espécie. Neste caso, o desenvolvolvimento das matrizes é feito a partir da fase larval dentro das próprias instalações do laboratório, evitando o risco da contaminação cruzada com indivíduos utilizados na engorda. Alguns laboratórios também passaram a investir em protocolos de biossegurança evitando o fluxo desnecessário de veículos e pessoal externo no interior de suas instalações.
Em 2005, reconheceu-se a necessidade de revigorar, com novo material genético importado, os plantéis de reprodutores do L. vannamei no Brasil. A resistência da espécie em fazendas de engorda tem se deteriorado ao longo dos anos, apesar de ainda manter um crescimento compatível com dados históricos, se for considerado o aumento nas densidades de estocagem que ocorreu nas fazendas. Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), o novo banco de reprodutores a ser importado deve ser SPF (livres de doenças específicas) e SPR (resistentes para doenças específicas) e ter origem de laboratórios nos EUA. Precaução especial deve ser dedicada ao processo de quarentena destes animais importados, para eliminar por completo os riscos associados com a introdução de enfermidades extremamente letais como a Taura Serotipo C, de alta virulência e patogenicidade.
Policultivo com tilápia
O policultivo de camarão com a tilápia Chitralada Oreochromis niloticus foi iniciado em alguns empreendimentos, gerando no início de 2005, uma expectativa otimista para alguns empreendedores. Algumas fazendas realizaram experimentos bem sucedidos, enquanto outras migraram por completo para o policultivo. Contudo ainda não se observa uma popularização deste tipo de cultivo por parte dos carcinicultores. As razões não estão associadas a questões de ordem técnica, mas provavelmente às poucas opções de comercialização encontradas para o produto tanto para o mercado interno, como para o externo e ao preço ainda pouco atrativo da tilápia quando comparado ao do camarão. Mesmo se estas questões forem resolvidas, o cultivo deverá ser sazonal na maioria das fazendas de camarão por razões associadas à alta salinidade da água de alguns estuários no período seco do ano, inviabilizando o cultivo da espécie.
Perspectivas e recomendações
A história da carcinicultura marinha demonstra que a expansão da atividade se dá em ciclos sucessivos de prosperidade e crises. É obvia a dificuldade de se anteceder a estas crises em períodos prósperos, mas, por um outro lado, é também inequívoco que períodos melhores virão. Em 2005, as fazendas que reestruturaram suas expectativas econômicas, encalcadas na realidade e não no entusiasmo, mantendo, em particular, investimentos em esforços técnicos para ajuste ao novo cenário de cultivo, foram as que obtiveram maior êxito. Nestes empreendimentos, os problemas passaram a ser reconhecidos, identificados e atacados a partir de sua origem, de forma pontual e contínua. A atividade também passou a aceitar suas limitações intrínsecas, seja resultante de aspectos ambientais, genéticos, de manejo e/ou sanitários. São muitas as oportunidades de melhoria e para atividade no Nordeste. Do ponto de vista técnico, melhores resultados deverão ocorrer em 2006, advindos da melhoria da qualidade das pós-larvas, de um melhor conhecimento da dinâmica do IMNV nas fazendas e de um ambiente de cultivo mais saudável, reflexo da redução das densidades de estocagem.
Os seguintes pontos finalizam este artigo na expectativa de que possam ser analisados e implementados:
1. Reincorporar os pré-berçários ao sistema produtivo como forma de recuperar possíveis condições de carência nutricional de pós-larvas ocorridas na sua fase inicial de vida e para assegurar povoamentos mais precisos, com indivíduos mais homogêneos e resistentes à engorda;
2. Investir exaustivamente em procedimentos de desinfecção do solo e da água, em particular antes do povoamento dos camarões para eliminar patógenos secundários, principais responsáveis pela mortalidade dos animais;
3. Exigir pós-larvas de alta qualidade sanitária e genética, distinguindo entre preço e valor do produto;
4. Empregar rações de menor teor protéico em períodos mais quentes do ano e sob menores densidades, investindo cautelosamente em rações de alto desempenho em períodos de pouco crescimento dos animais;
5. Instruir-se no uso de pouca renovação de água, migrando para sistemas de baixa troca ou recirculação, quando a fazenda dispuser de instalações adequadas;
6. Melhorar a condição ambiental do cultivo, em especial da água e do solo, eliminando indutores da floração de cianofíceas e da formação de matéria orgânica no viveiro, e;
7. Reconhecer as limitações de produção da fazenda, associadas ao local de instalação do empreendimento (solo, água, proximidade com outros empreendimentos) e infra-estrutura disponível (profundidade dos viveiros, bombeamento de água).
Agradecimentos:
Aos colegas Alberto Massari, Armênio Pereira, Daniel Cleiton da Costa, Pedro Carlos Martins, Pedro Duque, Marcelo Borba e Marcelo Sá pelas informações e esclarecimentos cedidos para elaboração deste artigo.