Foto: Após capturados, os atuns são rebocados até os tanques-rede próximos da costa para serem engordados num negócio que já gera US$ 32,1 milhões anualmente
Uma boa oportunidade para conhecer a Austrália e sua aqüicultura exótica
Autor: Moacir Apolinário – Biólogo – [email protected]
O próximo encontro da WAS – World Aquaculture Society (Sociedade Mundial de Aqüicultura), que se realizará de 26 de abril a 2 de maio do próximo ano em Sydney na Austrália, tem como tema central a busca de soluções para atender a crescente demanda mundial de pescados frente a limitada e preocupante capacidade dos estoques naturais em suprí-la. Às vésperas do ano 2000 a WAS chama mais uma vez a atenção para o importante papel que a aqüicultura deverá desempenhar nos próximos anos, após já ter discutido em versões anteriores, a sustentabilidade dos sistemas de cultivo para que a atividade não tome rumos indesejados e sua expansão não traga prejuízos ambientais e sócio-econômicos para a humanidade.
A capital australiana, às vésperas de sediar os Jogos Olímpicos do ano 2000, promete acolher confortavelmente os maiores especialistas da aqüicultura mundial, bem como os demais delegados. Entretanto dessa vez, as palestras e discussões, devido à proximidade dos países asiáticos e ao apoio que o Capítulo Japonês da WAS empresta ao evento, certamente terão um tempero oriental mais acentuado, fornecido pelos líderes mundiais na produção aqüícola.
A novidade do encontro fica por conta da realização simultânea do festival gastronômico Aquafood ’99, onde durante dois dias serão servidos pratos elaborados com os produtos da aqüicultura australiana. Para dar brilho ao festival, que se realizará no simpático Sydney Fish Market, os aqüicultores australianos prepararão seus estandes com instalações interativas, tanques, vídeos, etc. de forma que os visitantes possam, além de degustar, aprender mais sobre os pescados cultivados. Para os mais talentosos, não faltarão as aulas de culinária que serão ministradas durante o festival através dos professores da Sydney Seafood School.
Potencial ainda inexplorado
Apesar de seu enorme potencial, a Austrália não é propriamente o que poderíamos chamar de um grande produtor aqüícola. Os dados mais recentes mostram que em 1997 o país produziu 25.700 toneladas de pescados, 12,7 milhões de juvenis de peixes, a maioria destinada a recreação e repovoamento para conservação dos estoques, aí incluindo 5 milhões de juvenis de peixes ornamentais, o que somado gerou US$ 355.3 milhões (ou AU$ 444,2 milhões). No mesmo ano, mais de 50 espécies foram cultivadas em escala comercial, além de muitas outras em escala piloto ou experimental.
Entre as espécies cultivadas estão incluídos salmonídeos (5 espécies), atum bluefin, barramundi, peixes nativos de água doce (pelo menos 10 espécies), peixes marinhos (4 espécies), enguias (2 espécies), crayfish (3 espécies), camarões peneídeos (2 espécies), cistos de artêmia, caranguejo, camarão de água doce, ostras comestíveis (5 espécies), ostras perlíferas (3 espécies), mexilhões, abalone, microalgas, crocodilos e vermes poliquetas (2 espécies).
Pérolas e atuns
Do total de US$ 355.3 milhões gerados pela aqüicultura australiana (preços de produtores), os moluscos foram responsáveis por US$ 208 milhões, sendo que a indústria de ostras (foto) perlíferas (Pinctada maxima) contribuíu com US$ 169 milhões em 1997, sendo o principal produto da aqüicultura australiana. Há anos as ostras perlíferas têm se destacado como o setor da aqüicultura australiana que mais fatura, impulsionado pela boa reputação e o sucesso das pérolas dos mares do sul.
Outro animal de grande valor, recém incorporado à aqüicultura australiana é o atum Southern bluefin (Thunnus maccoyii), engordados em tanques-rede em Port Lincoln ao sul da Austrália. Os atuns são capturados em alto mar com redes (anteriormente eram capturados com anzóis, o que causava mortalidades) e rebocados (foto) em tanques-rede próprios para transporte até próximo ao litoral, onde são transferidos para os tanques-rede de engorda final. São ainda alimentados com sardinhas até o abate, apesar de já existirem alimentos artificiais pelletizados sendo testados. O cultivo de atum se consolida atualmente com a produção alcançando as 2.000 toneladas anuais, gerando uma receita de US$ 32,1 milhões. Os preços médios atuais chegam a US$ 16/kg pagos pelo bom mercado japonês e, para que o meio ambiente seja protegido e para que a indústria prossiga em bases sólidas, as autoridades australianas já estabeleceram o número de fazendas por cada área potencial, bem como o número máximo de atuns por cada fazenda.