WORLD AQUACULTURE 2008 O BRASIL NA CORÉIA

Por: Luís André Sampaio 
e-mail: sampaio @mikrus.com.br
Universidade Federal do Rio Grande
Instituto de Oceanografia
Laboratório de Piscicultura Marinha


O congresso da Sociedade Mundial de Aqüicultura (WAS) de 2008 foi realizado no final do mês de maio, desta vez, na Coréia do Sul. Um pequeno grupo de pesquisadores brasileiros conseguiu reunir recursos e energia para esta longa viagem que incluiu baldeações de ônibus, aviões e táxis. Para se ter uma idéia da distância, o deslocamento consumiu cerca de 48h, desde a minha saída de casa, na cidade de Rio Grande – RS, até a chegada ao hotel na cidade de Busan. À seguir, minhas impressões sobre o país coreano e sobre o WAS 2008, que manteve a tradição de ser o maior evento da aqüicultura mundial.

Brasileiros presentes na cerimônia de abertura do WAS 2008
Brasileiros presentes na cerimônia de abertura do WAS 2008

 

A população da Coréia do Sul é uma grande consumidora de pescado, principalmente de origem marinha. A diversidade dos produtos oferecidos aos consumidores é enorme. Nos mercados de peixes são oferecidas várias espécies, desde os tradicionais linguados e pargos, até enguias e cavalos-marinhos, considerados afrodisíacos pelos asiáticos. Dentre os crustáceos, estão à venda várias espécies de camarões e caranguejos. Os moluscos também têm uma presença expressiva, não apenas diversas espécies de bivalves, mas também abalone, sépia, lula e polvo.

ntretanto, os coreanos não param por aí: ouriços, pepinos-do-mar, algas e outros organismos de difícil identificação também estão presentes nas bancas, prateleiras e aquários. Sim, aquários, pois o pescado em grande parte é vendido ainda vivo. É possível também comprar peixes resfriados, congelados e secos.

O comércio de pescado vivo é imenso. Encontra-se no mercado central, em barracas de ambulantes ao longo da cidade e, até nos restaurantes. Os aquários do mercado central contam com um sistema de renovação de água em fluxo contínuo. Os das barracas localizadas junto à praia também contam com renovação constante da água, porém, os comerciantes mais afastados, fazem uma renovação parcial e, para isso, trazem água diariamente em bombonas. Há também os estabelecimentos que contam com sistemas fechados de recirculação de água, principalmente os restaurantes.

Esse consumo imenso de pescado provocou uma queda significativa na pesca, e estimulou a aqüicultura coreana. A capacidade de produzir formas jovens de diversas espécies permitiu não apenas o desenvolvimento da criação em cativeiro, mas também estimulou diversos projetos bem sucedidos de repovoamento, inclusive com uso de recifes artificiais.

Comércio de pescado vivo em Busan, Coréia
Comércio de pescado vivo em Busan, Coréia
O WAS 2008

Este foi mais um grande evento da WAS, que retornou à Ásia depois do congresso de 2005 em Bali, na Indonésia. No próximo ano, o maior encontro da aqüicultura mundial se realizará mais próximo de nós, na cidade de Vera Cruz, no México.

Em Busan, foram quatro dias de palestras, apresentações de trabalhos, reuniões e muitos contatos. Além da confraternização habitual, o coquetel de abertura e o banquete de encerramento proporcionaram aos visitantes estrangeiros a oportunidade de conhecer um pouco da gastronomia coreana. Assim, foi possível entender porque o mercado de peixes oferece tantos produtos: é para que eles possam preparar uma infinidade de pratos diferentes.

A organização do WAS 2008 ofereceu também aos participantes a oportunidade de visitar um moderno laboratório para produção de formas jovens de peixes, crustáceos e moluscos, e uma fazenda para produção de peixes marinhos em tanques-rede, proporcionando uma grande experiência para aqueles menos acostumados com a maricultura.

Um dos raros momentos em que viramos turistas foi quando visitamos o bonito “Aquário de Busan”, compacto, mas com uma ampla variedade da fauna aquática mundial. O aquário central, tem vários tubarões e garoupas gigantes, que são o ponto alto para os visitantes leigos ou aqüicultores.

Fazenda coreana de peixes marinhos em tanques-rede
Fazenda coreana de peixes marinhos em tanques-rede

O número exato de congressistas em Busan foi de 2.837 pessoas, entre cientistas, alunos e representantes da indústria, oriundos de 75 países. A delegação brasileira foi composta por representantes de universidades federais, estaduais e SEAP, entre eles, (da esquerda para a direita, na foto): Rodrigo Roubach (SEAP), Felipe Suplicy (SEAP), Wagner Valenti (CAUNESP), Patrícia Valenti (CAUNESP), Bernardo Baldisserotto (UFSM), eu, Luís André Sampaio (FURG), Maria Célia Portella (CAUNESP) e Eduardo Lemos (USP).

No evento desse ano, foram apresentados 972 trabalhos, divididos em 297 pôsteres e, 675 apresentações orais, que foram divididas em 55 sessões. Como de costume, as sessões tradicionais como reprodução e nutrição de peixes e crustáceos foram bastante concorridas. Outro setor com muita procura foi o da produção de peixes e camarões em meio heterotrófico, pois a possibilidade de minimizar o uso de água e de utilizar dietas com menor nível protéico vem ganhando aliados em vários países. Entretanto, me chamou a atenção o número de trabalhos sobre a criação de esturjão no leste europeu e em alguns países asiáticos como o Irã. Este parece ser um ramo da aqüicultura que se encontra em pleno desenvolvimento, com destaque para espécies do gênero Acipenser. Foram apresentados aproximadamente 20 trabalhos sobre diversos aspectos, incluindo reprodução, alimentação e tolerância à parâmetros ambientais.

Percebi também, o surgimento de novas espécies cultivadas entre grupos tradicionais. A sessão de criação de linguado, por exemplo, sempre contou nos últimos anos com apresentações sobre as duas espécies com grande produção comercial: o linguado japonês Paralichthys olivaceus e o europeu Psetta maxima. Nesse ano, além destas duas espécies, também foram apresentados trabalhos sobre o starry flounder Platichthys stellatus, originário da costa asiática; a solha Solea senegalensis da costa do Mar Mediterrâneo; o summer flounder Paralichthys dentatus, da costa leste dos Estados Unidos e, sobre o nosso linguado Paralichthys orbignyanus, comum desde o Rio de Janeiro até a Argentina.

Eventos paralelos

A feira de produtos e serviços para aqüicultura contou com 162 estandes, onde as mais modernas tecnologias foram apresentadas, especialmente com relação a novas dietas, aparelhos para medir a qualidade da água e desenhos de tanques-rede para produção em alto mar. Várias editoras também, aproveitaram o grande número de visitantes para divulgar suas mais novas publicações sobre organismos aquáticos.

Nesse ano a organização do congresso promoveu uma reunião das sociedades de aqüicultura associadas a WAS, onde cada uma teve espaço para apresentar um relato de suas atividades no que diz respeito ao relacionamento com a WAS. Eu tive o prazer de representar a Aquabio e fiz uma breve explanação sobre as atividades da nossa Sociedade. Aproveitei a oportunidade para informar que o Brasil estaria à disposição para sediar um outro congresso da WAS. Essa proposta foi muito bem acolhida por todos, pois, temos no Brasil uma aqüicultura em pleno desenvolvimento, com grande produção de pescado e de conhecimento, além de nossas já famosas atrações naturais: praia, sol e biodiversidade. Portanto, preparem-se, pois em breve o congresso da WAS poderá voltar a ser sediado no nosso país. Entretanto, isso deve ser analisado com muito cuidado, pois a responsabilidade de organizar um evento dessa natureza é enorme. Provavelmente, a Aquabio já “curou a ressaca” de ter ajudado a organizar o maravilhoso congresso da WAS em Salvador em 2003, e poderá ajudar a trazer novamente para o Brasil este grande evento. Com isso, nossos estudantes e produtores mais jovens terão também a possibilidade de conhecer pessoalmente os cientistas de renome na aqüicultura mundial, e percorrer uma feira com grande oferta das mais novas tecnologias para o setor.


Agradecimentos:

O autor agradece o suporte financeiro do CNPq
para a participação no congresso World Aquaculture 2008.