CATFISH

O bagre norte-americano Ictalurus punctatus, conhecido como catfish é mais um estrangeiro integrante da lista de peixes exóticos intruduzidos no Brasil.

É um peixe omnivoro da ordem Siluriforme da família Ictaluridae originário da região do Golfo do México. Atualmente é a espécie de maior importância comercial nos EUA. Seu cultivo constitui-se na segunda atividade econômica do estado do MIssissipi que possue 40.000 ha a ele dedicados, além de ser também cultivado no Alabama (10.000 ha) e Arkansas (9.000 ha). Das 210 mil t produzidas em 1993, 52% foram vendidas como filé, 26% como peixe inteiro sem processamento e 22% como nuggets, hamburgers, etc.
Além dos EUA, México e Cuba também cultivam comercialmente o catfish nos vários tipos de sistemas, já utilizando inclusive o super intensivo com 200 peixes por m3 em tanques-rede e raceways.

O produtor norte americano comercializa o catfish com 550 g de peso alcançados após 18 meses desde a desova. Apesar de possuir uma ampla faixa de conforto térmico, o que permite sua sobrevivência em baixas temperaturas, o crescimento é bastante limitado no inverno.

A maioria dos cultivos comerciais nos EUA é feita em viveiros de terra, sem renovação de água e com alimentação balanceada. São obtidas produtividades que variam de 3 a 6 mil kg/ha e a produção máxima anual para viveiros sem aeração e/ou sem renovação de água é de 2,5 a 3 t/ano com taxa de alimentação máxima recomendada para este sistema de 34-35 kg/ha/dia.

Os cultivos comerciais deste peixe nos EUA iniciam-se com alevinos medindo entre 10 e 20 cm e, para obtenção de animais de 550 g, o período de produção varia de 180 a 210 dias.

São recomendadas densidade de estocagem de 1853 a 2470 peixes por ha em cultivos extensivos sem alimentação suplementar; 3705 a 4940 peixes por ha para produção comercial com baixos níveis de manejo e 7410 a 9880 peixes por ha para a produção comercial intensiva com alto nível de manejo combinados com suplementos adequados de água e equipamentos de aeração.

John Jensen, da Auburn University, recomenda uma taxa de estocagem de 4940 a 7410 peixes por ha em açudes no Alabama. Sugere também que a quantidade de alimento não exceda 39 kg/ha/dia a não ser que haja disponibilidade de aeração efetiva ou renovação de água, quando então a alimentação poderia ser aumentada de 56 a 67 kg por dia.

Foi demonstrado que o catfish se alimenta mais ativamente com temperaturas acima de 21 ºC. A atividade digestiva decresce bruscamente à medida que a temperatura cai de 22 para 15 ºC e o crescimento em temperaturas inferiores a 15 ºC é muito baixo, nulo ou negativo. Dietas tipicas para engorda de catfish contém 32% de proteína, sendo esta, via de regra, fornecida nas rações por uma combinação de farinha de peixe e farelo de soja.

Segundo Boyd, o catfish necessita de taxas de 5 ppm ou mais de oxigênio dissolvido – OD para atingir um ótimo crescimento. Exposições ocasionais a baixas concentrações de OD (2-3 ppm), por poucas horas, aparentemente não causam nenhum prejuizo. Exposições por 2 ou 3 horas em ambientes com menos de 2 ppm de OD pode originar estresse e exposições por varios dias nestas baixas concentrações pode causar a morte.

BRASIL

Em 1972, ano em que chegou ao Brasil, o catfish foi diretamente para as instalações do DNOCS em Pentecostes no Ceará e somente em 1980, levado pelas mãos do piscicultor Miguel Grechinski, chegou a Irati – PR de onde se espalhou por todos os estados do Sul do Brasil.

Mas é uma característica ligada aos seus hábitos reprodutivos que certamente influenciou a distribuição atual do catfish no Brasil. É que para reproduzirem-se, as matrizes necessitam passar por um período do ano em temperaturas baixas (abaixo de 20 ºC). Segundo Juan Ramon, agrônomo, autor de importante tese de mestrado sobre a engorda desta espécie no Sul do Brasil, algo parecido com um “estresse térmico”. É que as condições de baixa temperatura são também acompanhadas por mudanças sensíveis no fotoperíodo que estão associadas às necessidades do peixe para completar o seu ciclo reprodutivo. Essas condições estão presentes em regiões brasileiras onde o inverno é marcante, daí o catfish só se reproduzir com facilidade na região Sul do Brasil.

É também por isso que, mesmo obtendo ganhos de peso excelentes nos estados quentes, é no Sul do país que encontraremos os principais produtores de alevinos dessa espécie.

REPRODUÇÃO 

No Brasil os peixes normalmente estão prontos para a reprodução a partir do sugundo ano. O período de desova ocorre no final da primavera – novembro, e vão até a metade do verão – fevereiro.

Os produtores brasileiros de alevinos utilizam o sitema de pen (curral, cercado) onde os casais de reprodutores são colocados nestes cercados e, na época da reprodução, os ninhos (caixas de madeira) são vistoriados diariamente para se constatar a presença da massa de ovos.

Segundo Juan Ramon Esquivel este processo, utilizado normalmente em pesquisas genéticas nos EUA é muito caro e trabalhoso para ser instalado. Como alternativa ele sugere a simples colocação de ninhos nos viveiros, os quais devem ter no máximo 1.400 kg de peixe por hectare com uma relação de 3 fêmeas para 2 machos. Da mesma forma que o método dos currais, os ninhos são vistoriados e os ovos coletados e levados para o laboratório.

A quantidade de ovos por quilo de fêmea é de aproximadamente 10.000. Após serem coletados, são levados para o laboratórios e colocados em incubadeiras até que eclodam após 6-7 dias. As larvas são levadas para viveiros (10.000 – 15.000/m2) bem -preparados e com boa alimentação natural. Passados 20 dias as pós-larvas (1,5 cm) podem ser comercializadas ou estocadas em viveiros de alevinagem (50 pós-larvas/m2) por mais 2 meses até se transformarem em alevinos com 4-6 cm de comprimento.

A produção anual de pós-larvas de catfish no Brasil é de aproximadamente 3 milhões e a produção de alevinos fica próxima dos 1,2 milhões.O preço dos alevinos no mercado variam de 50 a 80 dólares o milheiro.

ENGORDA

A produção de catfish no Sul do Brasil é lideada pela WEG Florestal, empresa do Grupo WEG, que possui, no minucipio de Corupa – SC, um laboratório para produção de alevinos apoiados em 4 ha de viveiros com matrizes reprodutoras, outros 4 ha destinados a alevinagem e, em fase de construção 50 ha de viveiros para engorda. Mas a liderança deve-se a seu plano de integração dos produtores. Este plano baseia-se na parceria entre a WEG e os produtores dispostos a receberem alevinos, ração, assistência técnica e a compra assegurada de toda a produção de peixes com 700-800 g, que rendem 2 filés de 133 g.

A WEG compra esses peixes dos produtores a US$ 1.00/kg e, neste momento, é ressarcida pelos alevinos (US$ 80/mil) e a ração que, para os piscicultores integrados, é subsidiada e vendida a US$ 0.31/kg ao contrário dos US$ 0.43/kg vendida ao mercado. Segundo Ary Ramos, responsável pelo projeto, os piscicultores integrados estão recebendo com isso cerca de US$ 0.35 por cada quilo de peixe produzido livre de todas as despesas e, principalmente, sem ter que empatar capital.

Os peixes produzidos pela WEG e seus piscicultores integrados estavam, de início com passagem marcada e passaporte carimbado para os EUA. Para isso a empresa estruturou-se com a compra de equipamentos importados para a retirada do couro dos peixes dentro dos padrões exigidos pelos compradores norte-americanos, que pagam US$ 4.6 pelo kg do filé posto nos EUA (a WEG deveria arcar com os custos de transporte, seguro, além da responsabilidade pela carga caso haja alguma recusa). Mas Ary conta que esses planos de exportação estão, pelo menos por hora, adiados por conta de portas que estão se abrindo aqui mesmo no Brasil, que oferecem pelo produto, processado com a mesma qualidade exigida pelos compradores norte-americanos, US$ 4.2/kg sem que empresa sem envolva com os riscos inerentes a uma operação de exportação.

Outras empresas além da WEG estão animadas com os resultados de cultivo do catfish como a Lavoura e Pecuária Igarashi em Papanduva, na região serrana da S. Catarina. O responsável técnico pela piscicultura da empresa, médico veterinário Clovis M. Komakome, diz que dos alevinos produzidos 20% são vendidos para piscicultores profissionais. Os 80% restantes são vendidos para proprietários de açudes, represas e lagos, onde os peixes são colocados visando a pesca esportiva. Segundo Clovis, que trabalha exclusivamente com catfish desde 1985, a Igarashi está ampliando sua área de engorda e está prestes a povoar os 10 hectares de viveiros construidos em Buri – SP dando início a um projeto de produção em larga escala de catfish.