Cultivo de Mexilhões

Pesquisa retrata o impacto sócio-econômico da atividade em Santa Catarina

Rita de Cássia Cordini Rosa
Publicado na Edição 46 (Março/Abril’1998)


A expressiva produção de mexilhões originada da mitilicultura no Estado de Santa Catarina, que já ultrapassa as 6 mil toneladas anuais, foi tema da tese de mestrado da engenheira agrônoma Rita de Cássia Cordini Rosa, no Departamento de Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, orientada pelo professor Jaime Fernando Ferreira.

A mitilicultura é uma atividade recente no estado. Os primeiros projetos de pesquisa foram iniciados em 1986 e os primeiros cultivos comerciais em 1989, estando a maioria dos projetos ainda em fase de execução.

O estudo realizado por Rita de Cássia, entitulado “Impacto do cultivo de mexilhões nas comunidades pesqueiras de Santa Catarina” se concentrou nas cinco principais comunidades pesqueiras que produzem mexilhões, localizadas nos municípios de Florianópolis, Palhoça (Enseada do Brito), Governador Celso Ramos (Ganchos de Fora) e Bombinhas (Canto Grande). Para a confecção de seu trabalho, Rita de Cássia levou em consideração os aspectos técnicos e sócio-econômicos obtidos a partir de informações obtidas junto à EPAGRI, UFSC e UNIVALI, instituições ligadas diretamente aos trabalhos de extensão e pesquisa, que inicialmente concentraram seus estudos na biologia, nas técnicas de cultivo e nas análises da água e da carne do mexilhão. Atualmente, além desses estudos, são contemplados trabalhos sobre o ordenamento das áreas de cultivo, qualidade do produto para consumo, conscientização ambiental, obtenção de sementes e, apoio e estruturação das associações.

 Perfil

Para avaliar o impacto sócio-econômico da mitilicultura nas comunidades pesqueiras catarinenses, foram aplicados questionários e seus dados submetidos a análises estatísticas. Os resultados revelaram o perfil do produtor que, em sua maioria, são casados e possuem idade entre 20 e 50 anos, com o primeiro grau incompleto. Revelaram também que praticamente a metade dos componentes da família trabalha ou tem profissão secundária e, para 47% deles, a mitilicultura já é a principal fonte de renda. As famílias, em geral, têm alimento equilibrado, casa própria, sistema sanitário adequado e possuem eletrodomésticos em casa. Não costumam cultivar hortas ou criar outros animais.

O estudo concluiu que 2/3 dos mitilicultores catarinenses cultivam até 1.000 m2, numa atividade iminentemente familiar onde todo o trabalho é feito de forma manual, com 80% das unidades de cultivo pertencentes a uma só família e, quando há necessidade, a mão-de-obra extra é proveniente de parentes e vizinhos que moram na própria comunidade. O estudo concluiu também que os padrões técnicos utilizados pelos mitilicultores são excelentes; os mesmos utilizados em nível mundial, com tecnologia simples e de fácil aprendizado.

Os mitilicultores catarinenses estão vinculados a associações de maricultores e segundo eles, as mais atuantes são as do norte da Ilha em Florianópolis e Canto Grande no município de Bombinhas, mas não é comum atividades comunitárias como a compra de materiais necessários ao cultivo ou venda do produto, mesmo havendo uma participação expressiva em reuniões, onde procuram discutir problemas e planejar a mitilicultura. Foi também observado que alguns produtores, que participam de cursos ou treinamentos, têm por hábito repassar os conhecimentos adquiridos aos outros mitilicultores da região, num efeito multipliador bastante positivo.

Os problemas mais comuns aos produtores dizem respeito a qualidade do produto, aos aspectos legais, ao mercado e ao roubo da produção.

Com relação a comercialização, os produtores praticamente não estocam o produto que, além de ser negociado nos próprios municípios, segue também para outras cidades do litoral do estado e para as principais cidades do Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. O produto final é vendido a granel ou desmariscado (sem casca), embalados em sacos plásticos, e comprado por particulares, bares e restaurantes. Em 2/3 dos casos, o preço do mexilhão é determinado pelo mercado e o restante pelo intermediário.

O estudo concluiu que sete anos de atividade é pouco tempo para promover mudanças econômicas significativas que, entretanto, deverão começar a ocorrer num período não muito distante.

Já as alterações sócio-econômicas são perseptíveis e expressivas destacando-se o permanência das famílias nas comunidades pesqueiras, não perdendo o espaço de origem, tão comum nessas populações, favorecendo a integração da família com o trabalho e seu meio ambiente. Além disso, cada cultivo possibilita a geração de mão-de-obra e renda para, pelo menos, quatro pessoas.